Entrevista: Nova gestão no DCE UNAMA

“É preciso começar o ano de 2012 com uma grande campanha contra o aumento das mensalidades”

Manu Nery, tem 19 anos, é estudante de direito do 3º semestre e faz parte da nova gestão eleita do Diretório Central dos Estudantes (DCE) para o ano de 2012. Num processo eleitoral em que sua chapa, Unidos Pra Lutar, venceu com 85% dos votos válidos, a estudante justifica os números do processo eleitoral pelo programa apresentado pela chapa. “São 5 anos consecutivos em que o setor que questiona o aumento das mensalidades vence as eleições do DCE, isso ocorre porque de fato os estudantes não estão contentes com as altas mensalidades e o pouco investimento da universidade na qualidade dos cursos”, argumenta.
Como você avalia a última eleição do DCE?  Qual o recado dos estudantes com o resultado do pleito?
Acredito, que a exemplo dos últimos anos, triunfou a indignação dos estudantes com os problemas da universidade. São 5 anos consecutivos em que o setor que questiona o aumento das mensalidades vence as eleições do DCE. Isso ocorre porque de fato os estudantes não estão contentes com as altas mensalidades e o pouco investimento da universidade na qualidade dos cursos. É mais dinheiro entrando nas despesas de custo do gabinete da reitoria do que na renovação do acervo bibliográfico. O roubo de um carro dentro do campus Senador Lemos, que é o campus onde estudo, é um exemplo do absurdo da situação aonde chegamos. Só depois que a última gestão do DCE realizou uma audiência pública no campus é que foi garantida a implantação de um posto policial próximo ao estacionamento. Por isso os estudantes optaram por seguir tendo o DCE como uma entidade que siga questionando os problemas da universidade, centralmente a questão do aumento das mensalidades e da qualidade do ensino.
E qual a saída para conseguir barrar os aumentos das mensalidades? É realmente possível fazer isso?
Recentemente os estudantes obtiveram uma primeira vitória sobre esse tema. Depois de anos realizando mobilizações na universidade e procurando espaços de defesa do consumidor, como PROCON e a via judicial, como o Ministério Público, as mensalidades para os ingressantes de cursos como serviço social, fonoaudiologia e arquitetura serão menores do que os valores atuais. Isso não acontece por acaso. A própria reitoria está chegando à conclusão de que para diminuir a evasão é preciso reduzir a mensalidade. Mas para que isso ocorra é preciso começar o ano de 2012 com uma grande campanha contra o aumento das mensalidades na universidade. Acreditamos que a redução deve ocorrer para todos os estudantes.
Quais as perspectivas da nova gestão do DCE? Como pretendem começar suas atividades em 2012?
Esse mês faremos um planejamento da gestão. Começaremos o ano com uma boa calourada, nosso objetivo vai ser envolver os estudantes em palestras e atividades que faça com que reflitamos sobre o que é de fato estar numa universidade. Que não pode ser apenas um espaço pra assistir aula, mas para produzir conhecimento, para se organizar e ser um crítico da realidade para transformá-la. O movimento estudantil deve cumprir esse papel de nos ajudar a perceber que os problemas existentes na universidade e na sociedade podem ser resolvidos se nos organizamos. Por isso queremos também realizar um amplo processo de refundação dos centros acadêmicos, pois com os CA’s funcionando os estudantes estarão mais próximos do DCE no dia a dia de seus cursos.

Pra finalizar, você falou que organizados podemos transformar a realidade e esse ano a juventude realizou várias mobilizações no Brasil e em outros países do mundo, como no Chile e na Inglaterra onde se questionou o caráter mercantil da educação. Como tens visto essas experiências?
Bem, é muito importante olharmos a realidade que nos cerca. Na Inglaterra e no Chile todas as universidades são privadas e o que fez os jovens nesses países se levantarem foi justamente o fato de não conseguirem mais pagar para ter acesso a educação. Também acredito que a educação não é uma mercadoria, mas um direito garantido pela constituição. Infelizmente assim, como muitas coisas em nosso país esse conteúdo da constituição não é levado a sério pelos nossos governantes. O governo federal não tem nenhum mecanismo de controle das universidades particulares e por isso no ensino pago se abrem instituições de ensino superior sem nenhuma garantia de qualidade e com mensalidades exorbitantes. No estado do Pará quase metade da população vive com menos de um salário mínimo e mesmo assim existe um reajuste das mensalidades que pode variar de 6 a 9 % esse ano. Acho que o sentimento de indignação que expressou a juventude nos países árabes, na Europa e até nos EUA com o Ocuppy Wall Street e até com ocupação na universidade de Havard, tem haver centralmente com o problema econômico. Esse é o mesmo problema que também nos toca sobre o problema do ensino no nosso país e também em nossa universidade. Pouco investimento e um alto custo para ter acesso a educação. Por isso nos inspiramos nesses movimentos para que eles sirvam como referência para nossa luta na UNAMA por uma educação de qualidade.