Chile: Derrota de Vallejo (PC) na FECH consolida radicalização do movimento estudantil

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La Clase
 David Muños
(La Tercera)
O presidente do Partido Comunista, Guillermo Taeiller e Vallejo disseram que não se sentiriam “derrotados” e acusaram uma conspiração da direita. Foi a cena queaconteceram há duas semanas no restaurante La Mitad del Mundo, em Povidencia, que o presidente do PC, Guillermo Tellier e a dirigente estudantil Camila Vallejo analisaram pela primeira vez e de maneira dura o risco de perder a presidência da Federação de Estudantes da Universidade do Chile (FECH).
A reunião, realizada na sexta-feira, 25 de novembro, havia sido convocada pelo presidente comunista, para respaldar a reeleição de Vallejo e estudar os possíveis cenários. A principal preocupação era que a dispersão dos votos de esquerda, que se dividiam em oito listas, e um forte discurso anti Concertação e contrário a Bachelet de seu principal oponente, Gabriel Boric, pudessem tudo abaixo nos planos de reeleição.
“Não seremos o comando juvenil de Bachelet”, frase reiterada pelo líder de esquerda extra-parlamentar, havia se convertido em consigna de campanha.
Para aplacar a ofensiva, Teiller evocou todo o aparato da “Jota” (juventude comunista) à serviço da reeleição de Vallejo e acompanhou de perto o processo. Assim foi enviada a secretária geral da JJ CC, Karol Cariola, para mantê-lo permanentemente informado.
Foi ela quem liderou o grupo de militantes que se instalou na Faculdade de Direito, em torno de meia-noite de terça-feira, com bandeiras e palavras de ordem a espera dos resultados. E foi a encarregada de telefonar a Teillier, no início da madrugada de quarta, para comunicar-lhe a notícia: Vallejo perdeu a presidência da Fech POR 189 votos.
A lista “Creando Izquierda” (Esquerda Autônoma) conseguia que Boric conquistasse a liderança da federação por 4053 votos e propicia-se sua primeira derrota a dirigente mais popular do movimento estudantil. Embora Vallejo tenha obtido a primeira maioria personal, com 1868 votos, a lista do PC obteve 3864 votos, permitindo a dirigente a vice-presidência.
Os resultados, sustentados tanto pelo oficialismo como pela oposição, expressavam a maioria “ultra” que posiciona o conflito estudantil.
Revisão de votos.
Antes de ontem, Teillier se reuniu com Cariola e um grupo de dirigente na sede central do PC. “Sabiamos que corríamos o risco (…), porém não nos sentimos derrotados”. Disse o deputado por San Miguel, ao mesmo tempo em que denunciou uma conspiração contra Vallejo e seu partido. Horas antes e sem assumir sua derrota nas urnas como fracasso, a dirigente havia pedido a revisão dos votos da lista F (gremialistas), acusando uma suposta intervenção do governo nos resultados.
A suspeita do PC é que na segunda rodada de votação a direita optou por Boric para derrotar Vallejo.
Em privado, Teillier não escondeu sua decepção pelo golpe a sua figura estudantil mais popular, a quem tinha previsto chamar na noite passada.
O presidente do PC tinha razões para ressentir a derrota: Não só foi o principal impulsionador da reeleição de Vallejo, mas também foi um dos protagonistas para que a dirigente selasse um acordo, primeiro com o governo e depois com a Concertação para por término nas mobilizações.
Nessa linha, o deputado, dirigiu pessoalmente reuniões entre Vallejo e os líderes da oposição em meio do debate sobre o orçamento no congresso. Foi precisamente esta relação que Vallejo manteve com o establishment que, segundo reconhecem no partido, lhe passou a conta para buscar a reeleição na Fech.
Já durante o processo de conversações com o executivo e junto ao ex-líder da Feuc Giorgio Jackson havia enfrentado sem êxito posturas mais radicais, lideradas pelos mais “ultras” da Confech. Na madrugada de terça não foi exceção e a mensagem de Boric foi categórica: “Nossos adversários estão no governo e no parlamento”. Como um sinal de unidade, na tarde de ontem, Boric e Vallejo deram uma entrevista conjunta.