Raphael Castro*
Desde as Jornadas de Junho de 2013, quando milhões de jovens foram às ruas, o governo Dilma, governos estaduais e municipais que queria sustentar os interesses dos empresários do transporte foram colocados contra a parede. Desde então, as mobilizações da classe trabalhadora e da juventude, que não aceitam pagar pela crise econômica, têm aumentado a pressão que sofre o governo. Frente a isso, Dilma, o PT e os setores governistas têm tentado confundir os trabalhadores e estudantes com um discurso de que uma forte onda conservadora tem tentado dar um golpe no governo e por isso, precisamos defendê-lo.
A verdade é que a suposta onda conservadora, que se expressa no Congresso Nacional e na grande mídia, tem o apoio do governo Dilma, de sua base aliada e da oposição de direita. Dilma segue se esforçando para manter as alianças com o PMDB e os demais corruptos e fundamentalistas da política brasileira, assim como se expressou nas resoluções do último Congresso do PT. Além disso, o governo petista patrocina a mídia conservadora. Prova disso é o levantamento, apresentado pelo jornalista Fernando Rodrigues, nessa semana, que mostra que a Rede Globo recebeu mais de 6 bilhões de reais em publicidade do governo federal, durante esses doze anos do governo do PT e PMDB. O levantamento foi feito com base nas informações divulgadas no Portal da Transparência e do Instituto para Acompanhamento da Publicidade, que tem dados fornecidos pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República.
Para os que enganam o povo, bilhões de reais
Entre 2003 e 2014, período em que Lula e Dilma estiveram à frente do país, a Rede Globo recebeu um total de R$ 6,2 bilhões para veicular propagandas do governo federal. Uma discrepante diferença em relação à segunda emissora que mais recebeu verbas, que foi a TV Record, com R$ 2 bilhões; seguida pelo SBT, com R$ 1,6 bilhões; e a Rede TV que ficou com R$ 408 milhões. Dos R$ 13,9 bilhões gastos com publicidade em TV, os governos Lula e Dilma deram R$ 6,2 bilhões, quase metade do total, somente para a conservadora Rede Globo.
Só em 2014 a Rede Globo recebeu R$ 453,5 milhões por propagandas do governo. Para se ter uma ideia, no mesmo ano, a Secretaria de Políticas para as Mulheres, da Presidência da República, não chegou nem perto de receber o que a Globo recebeu e teve que se contentar com um orçamento de R$ 190 milhões.
Além de emissoras de TV, outros veículos de comunicação também faturaram bastante com o dinheiro de propaganda do governo federal. O Globo foi o jornal impresso que mais recebeu verbas, no período petista, com R$ 21,5 milhões. Entre as revistas, a Veja foi a que mais faturou, ela recebeu um total de R$ 370,9 milhões, entre 2003 e 2014. Somente entre 2011 e 2014, primeiro mandato de Dilma, as agências de publicidade FCB Brasil e Borghi Lowe, do grupo Interpublic, citadas no processo da Operação Lava-Jato, receberam R$ 969 milhões (mais de 90% do orçamento disponibilizado pela União), para fazer campanhas publicitárias da Petrobrás, Caixa Econômica Federal, BR Distribuidora e Ministério da Saúde.
Democratizar a mídia e derrotar o governo conservador de Dilma
Esses dados só nos reafirmam o caráter conservador e de direita que tem o governo Dilma (PT/PMDB/PCdoB). Esse mesmo governo não se propõe a discutir a Democratização da Comunicação no país, ao contrário: está junto com coronéis da mídia, como Jader Barbalho e Fernando Collor de Melo, detentores de grandes grupos de comunicação em seus estados. Além disso, sustenta a farra dos oligopólios midiáticos, dando bilhões de reais para a família dos Marinho e demais famílias que controlam a comunicação no Brasil.
Dilma e o PT estão do mesmo lado que a Globo e toda a mídia burguesa, que usam seu enorme poder midiático para criminalizar as lutas dos trabalhadores e da juventude em todo país. Governo que ajuda a Rede Globo a se manter na liderança do mercado da comunicação, não tem autoridade para falar de onda conservadora da mídia, porque reforça economicamente o seu poder ideológico. A verdade é que a tão falada onda conservadora está no poder com Dilma e seus aliados corruptos. Esses aliados estão na política, a exemplo do Eduardo Cunha, e na mídia, a exemplo dos Marinho.
É evidente que utilizam esse argumento para desviar o foco da política que aplicam para fazer com que nós paguemos pela crise. A juventude e classe trabalhadora devem ter clareza que combater o conservadorismo e a ofensiva da direita é combater também o governo Dilma que está aplicando um brutal ajuste fiscal que enriquece ainda mais os poderosos e tira direitos dos estudantes e trabalhadores. Assim como em Junho de 2013 e nas greves de 2014, a exemplo da greve dos garis do Rio ultra-atacada pela mídia, não vamos nos iludir com as falsas ideias da mídia nem do governismo que a sustenta. É urgente um projeto de democratização da comunicação elaborado pelos movimentos sociais, pelas organizações e partidos de esquerda e independentes e comunicadores populares.
*Estudantes de Comunicação Social, Diretor do DCE da UFPA e militante da Juventude Vamos à Luta e da CST-PSOL