#BlackLivesMatter | O levante negro nos Estados Unidos volta às ruas

por Priscila Guedes (Diretora do DCE da USP) e Diego Vitello (Metroviário de SP)


Desde o dia 07 de Julho, milhares de pessoas tem ido às ruas nos EUA em protesto contra a morte de dois homens negros por policiais na última semana.

As ações policiais que tiraram a vida de dois homens negros, Alton Sterling, no dia 05, e de Philando Castile, no dia 06, foram registradas em vídeo e causaram uma profunda indignação. É nítido nos vídeos que foram assassinados pelo racismo policial. Os dois simplesmente não fizeram nada, não ofereciam nenhum perigo aos policiais. Mesmo assim pagaram com suas vidas. Os vídeos viralizaram nas redes sociais e foram o estopim para uma nova onda de protestos contra a violência racial da polícia estado-unidense.

Com cartazes e gritando palavras de ordem como “Mãos ao alto, não atire”, “Sem paz, sem justiça, sem polícia racista”, as manifestações tem ocorrido em diversas cidades do país. São Francisco, Chicago, Washington, Nashville, Indianápolis, Atlanta, Miami, são alguns exemplos. Em St. Paul, Minnesota, manifestantes bloquearam uma rodovia. Em Nova York, a famosa Quinta Avenida foi fechada em um dos atos. Na Califórnia, os rappers Snopp Dogg e The Game lideraram um dos protestos.

Eles não foram os únicos artistas a se manifestarem. A cantora Beyoncé, que no início do ano lançou o vídeo “Formation” que aborda a violência racial da polícia, divulgou uma nota no seu site oficial em que diz que os negros temos que exigir que eles (policiais) parem de nos matar.

No ato ocorrido em Dallas, Texas, no dia 07, cinco policiais foram mortos por um franco-atirador, veterano de guerra negro. Mesmo assim, as mobilizações contra a violência policial seguiram. A repressão também tem sido marca nesses atos e centenas de manifestantes foram presos.

Esses novos protestos são parte do mesmo processo de luta da população negra contra a violência policial que se iniciou a quase dois anos atrás com as mobilizações que se seguiram à morte de Michael Brown, de 18 anos, em agosto de 2014. Depois disso, mobilizações massivas também tomaram conta do país após as mortes de Eric Garner, em dezembro de 2014, e de Freddie Gray, em abril de 2015. Trata-se da reação dos negros e negras contra o racismo num país onde “a chance de um negro ser morto pela polícia é três vezes maior do que a de um branco” (Clóvis Rossi, F. São Paulo, 10/07/16). Um levante negro que volta às ruas de forma radicalizada e com muita força a cada novo caso de morte de negros por policiais que ganha repercussão.

Com Obama só piora a situação dos negros

Hoje, a taxa de desemprego dos negros nos EUA chega a 10%, praticamente o dobro da dos brancos. O desemprego entre jovens negros supera os 30%. Com a crise da economia capitalista, o nível de vida despencou. Houve aumento da pobreza, e serviços básicos como alimentação, saúde e transporte público ficaram com preços cada vez mais inacessíveis para os negros de baixa renda. Apesar de representarem cerca de 15% da população, os negros são 70% dos moradores de rua nos EUA. São apenas alguns dados que demonstram os efeitos do capitalismo estado-unidense na vida dos negros.

Porém, o que fica evidente é que Obama, ao governar a serviço das grandes multinacionais norte-americanas, é responsável pela manutenção e piora da situação dos negros nos EUA. O fato de ter um presidente negro nos Estados Unidos não significou a melhoria da vida dos negros e não resolveu as tensões raciais ainda presentes no país.

No Brasil também é preciso enfrentar a violência racista da polícia

O levante da população negra tem se mostrado extremamente poderoso, uma reação indignada daqueles que estão cansados do racismo, da discriminação e da violência policial. Acreditamos que essa resposta, com mobilização nas ruas, é o mesmo que temos dar no Brasil.

Motivos não faltam. Apenas recentemente a periferia brasileira viu diversas chacinas ocorrerem nas quebradas de São Paulo e do Rio de Janeiro. É escandaloso e revoltante o caso de um menino de 16 anos que foi morto quando um policial confundiu um saco de pipoca com drogas e o matou a sangue frio.

Diversos casos também chocaram o Brasil e produziram mobilizações, como as mortes de Amarildo, Claudia, DG. Todos da mesma origem social. Todos da mesma cor. Todos inocentes.

Somente com atos e protestos nas ruas, a exemplo do que fizeram os moradores da favela da Maré no Rio de Janeiro, é que podemos começar a reverter essa situação. Essa favela, que inclusive foi militarizada pela ex-presidente Dilma, tem dado importantes exemplos exemplo de resistência contra a violência policial. O presidente Temer e os governadores, mandantes dessa violência e promotores da criminalização da pobreza, precisam ser derrotados nas ruas para que tenhamos o fim da violência racista comandada pelas polícias militares de todo país.


Todo apoio ao levante negro nos EUA!
É hora de tomar as ruas para derrotar a violência policial e o racismo!
#BlackLivesMatter!

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