Eleições do DCE da USP | A vitória da Esquerda e nossos próximos desafios

As eleições para o DCE da USP ocorreram entre os dias 8 e 10 de novembro e expressaram muitos elementos do momento político da Universidade e do país. Nós, da Juventude Vamos à Luta, que fomos parte da chapa Travessia junto a outros coletivos da esquerda, gostaríamos de contribuir para o debate sobre o balanço destas eleições. A vitória expressiva da nossa chapa (ver resultados abaixo) foi uma importante demonstração da consolidação da esquerda na universidade e coloca enormes desafios pela frente.

A Conjuntura e a USP

Vivemos em uma conjuntura de fortes ataques aos direitos sociais. O congelamento de gastos por nada menos que 20 anos nos investimentos em saúde e educação, a exclusão de Sociologia, Filosofia e Artes do currículo do ensino médio e a retirada de direitos trabalhistas e previdenciários são apenas algumas das medidas do governo do ilegítimo de Temer (PMDB) contra os trabalhadores e a juventude. Elas provocam um caos social ainda maior para a imensa maioria da população, com o objetivo de manter os privilégios de uma minoria de banqueiros, empreiteiras e empresários. Sabemos também que essa mesma política de ajuste é aplicada pelos governadores, como faz Alckmin (PSDB) aqui em São Paulo.

Em meio a isso, os escândalos de corrupção continuam, e a recente prisão dos aliados de Temer, Sérgio Cabral (PMDB) e Garotinho (PR), é a demonstração que estamos perante um governo corrupto e que precisa ser combatido.

Mas, se por um lado temos duros ataques, por outro, neste momento, os estudantes transformaram suas escolas e universidades em grandes trincheiras de resistência ao ajuste fiscal de Temer. Os trabalhadores também começam a se mover com mais força, tendo nos servidores públicos federais seu setor mais avançado no momento. As lutas não estão sendo e não serão fáceis, mas sem dúvidas há uma enorme disposição para lutar contra os planos de Temer. É isso que demonstram as ocupações e greves nas universidades. Obviamente que a USP é parte deste todo. Se por um lado temos uma reitoria que é a aplicadora do ajuste fiscal dentro da Universidade, temos muita disposição de luta dos estudantes. Não à toa, os estudantes da USP estiveram em peso nos atos pelo #ForaTemer. A greve do primeiro semestre, ainda que não tenha saído com uma vitória mais global, teve avanços parciais em alguns cursos e mostrou uma disposição de luta que não víamos há muitos anos dentro da Universidade. Assembleias massivas pelos cursos, pela base da universidade.
E aí no meio, uma crescente politização e avanço dos debates sobre a conjuntura política brasileira.

A USP disse não ao imobilismo: A importância da derrota do PT nas eleições do DCE

Achamos que é um importante marco da eleição também a derrota do PT e do Levante Popular da Juventude. A chapa Todos os Cantos, vinculada a esses setores, saiu quase 1000 votos atrás da chapa Travessia, composta por coletivos que fizeram oposição de esquerda ao projeto petista nos últimos anos. A chapa Todos os Cantos representava o movimento estudantil que durante anos trocou as ruas pelos gabinetes, se calando frente a política nefasta dos governos da aliança PT/PMDB. Quando Dilma e o PMDB faziam cortes bilionários na educação, precarizando universidades, cortando bolsas, privatizando hospitais universitários e fechando restaurantes universitários, os setores que defendiam o seu governo ficavam calados. Quando o governo do PT/PMDB colocava o exército para reprimir as manifestações que questionavam os gastos absurdos com a Copa, a juventude petista se calava. Obviamente que cargos bem remunerados combinados com volumosas quantias de dinheiro para cooptar a UNE (União Nacional dos Estudantes), dirigida majoritariamente pelo PCdoB e pelo PT, “ajudaram” esses dirigentes a se calarem frente a diversos absurdos.

Enfim, os que abandonaram a luta da juventude durante anos, perderam a eleição. Isso é positivo. Esses setores não têm condições de construir um enfrentamento necessário contra o governo de Temer. Não apenas porque passaram anos e anos ao lado do PMDB, mas porque hoje estão mais preocupados com a volta de Lula ao governo em 2018 do que em derrotar nas ruas o ajuste fiscal de Temer. Não à toa, a preparação de uma greve geral (sem duvidas a melhor resposta à altura dos ataques de Temer) não está na agenda desses setores que além de dirigirem a UNE, estão à frente da CUT e da CTB com gestões marcadas pela paralisia. Isso ficou claríssimo quando acharam que uma foto do apoio de Lula e Haddad a sua chapa poderia alterar o resultado das eleições do DCE. Felizmente essas duas figuras, que tanto atacaram a juventude, estão em descenso na juventude, por isso seu apoio não conseguiu influenciar decisivamente o resultado da eleição.

Não temos dúvidas de que é preciso, a partir das ocupações e greves das escolas e universidades, em conjunto com gestões combativas dos DCE’s, construir uma nova direção para o movimento estudantil, que sem dúvidas irá se enfrentar politicamente contra a política da direção majoritária da UNE e dos petistas no movimento estudantil.

A vitória da Travessia e alguns próximos desafios

A vitória da chapa que compusemos mostrou que uma parcela importante dos estudantes votou por uma chapa de esquerda e de unidade. Os coletivos que compuseram a chapa (Juntos, Rua, MAIS, UJC, SoB, Vamos à Luta) souberam chegar a algumas importantes sínteses políticas e venceram a eleição. Primeiro, de que a saída era a mobilização, sendo oposição intransigente aos projetos de Temer, Alckmin e Zago para a educação. Segundo, que era preciso garantir que o ME da USP não retrocedesse e tivesse o DCE nas mãos do PT. Os mais de mil votos de diferença demonstraram que os estudantes da USP votaram pela esquerda e não quiseram retroceder ao petismo. Isso mostra o espaço existente para uma esquerda coerente na universidade.
Não podemos deixar de citar que na FFLCH, palco sempre de importantes mobilizações, a chapa Todos os Cantos venceu a eleição com boa margem. Infelizmente é nos cursos de humanas onde o discurso de vitimização do PT mais entrou. Combinado com isso, as debilidades da atual gestão do DCE, que sem dúvidas existiram, também contribuíram para esse resultado. Recuperar a força da nova gestão do DCE na FFLCH será com certeza um dos mais importantes desafios pela frente. Com muita mobilização e debate político acreditamos que isso é possível.

O resultado pífio de setores que lançam suas chapas de um coletivo apenas para sua autoconstrução foi mais uma vez derrotada nas urnas. A esses setores, infelizmente, se somou a chapa “Embarca na Luta”, vinculada ao PSTU, que fez uma votação bastante pequena na eleição, 194 votos. Na prática, se todos seguíssemos a lógica do PSTU, MRT e outros grupos que se negam a qualquer tipo de unidade e síntese, entregaríamos de mão beijada o DCE para o PT, o que significaria um retrocesso para a USP e para o movimento estudantil em nível nacional.

O primeiríssimo desafio que teremos pela frente é a construção de uma forte caravana no dia 29/11, para o ato em Brasília contra a PEC 55. Esse será só o começo do nosso enfrentamento como gestão à política nefasta de Temer.

Lutar pelas cotas e contra a precarização da Universidade

Tivemos uma importante vitória, mas também sabemos que é preciso avançar. Na última gestão o DCE teve debilidades, ainda que em alguns cursos e institutos cumpriu um papel fundamental na organização da greve do primeiro semestre. Os desafios serão muitos, como ser parte da construção, lado a lado com o movimento negro, de um amplo movimento e uma ampla mobilização para que as cotas sejam implementadas na universidade. É preciso combater diariamente a elitização da USP. Além disso, lutar junto aos trabalhadores contra o desmonte e a precarização da Universidade, enfrentando os ataques da Reitoria, lutando por novas contratações de professores, contra o fechamento de vagas nas creches, etc.

Basta de ataques da reitoria contra a EACH! Em defesa do curso de Licenciatura em Ciências da Natureza!

Um duríssimo ataque da reitoria está em curso. Mais uma vez os estudantes da EACH são escolhidos para serem “cobaias” dos planos de Zago. A proposta de fechar o matutino de LCN (único curso de licenciatura da USP Leste) caminha a passos largos na burocracia universitária. Por outro lado os estudantes respondem e se mobilizam. O DCE deve fortalecer com todas suas possibilidades o importante movimento já existente dos estudantes de LCN contra o fechamento do matutino. Deve estar cada dia mais presente no cotidiano dos estudantes, apoiando a organização da resistência aos planos de Zago de desmonte e privatização da USP.


Confira o resultado eleitoral:

1) Travessia(Vamos à Luta, Juntos, RUA, MAIS, PCB, SoB) | 2536 votos

2) Todos os Cantos(PT/LPJ) | 1597 votos

3) Primavera nos Dentes (MRT) | 214 votos

4) Embarca na Luta (PSTU) | 192 votos

5) Território Livre | 99 votos

6) USP Contra o Golpe (PCO) | 59 votos

7) Ocupa K e L (POR) | 40 votos

Tagged with: