Eleições DCE USP: Balanço e as tarefas da esquerda

Entre os dias 7 e 9 de novembro aconteceram as eleições para o DCE da USP. Infelizmente a chapa vitoriosa foi a Nossa Voz, vinculada ao PT, PCdoB e à direção majoritária da UNE. Nós da Juventude Vamos à Luta fizemos parte da chapa Pode Chegar e não Para, junto a diversos outros coletivos estudantis de esquerda (Juntos, UJC, RUA, MAIS, SoB), que ficou em segundo lugar. Em meio a tantos ataques que virão por parte da reitoria e dos governos estadual e federal, não podemos deixar de dizer que o resultado na eleição significa um forte retrocesso para a entidade. O papel desmobilizador do petismo, só vai se acentuar no próximo período, e as entidades que esse setor dirigem estarão a serviço desse projeto. Por isso, queremos fazer um balanço honesto do significado dessa derrota da esquerda,

Nas últimas duas gestões, fizemos parte do DCE Livre da USP, sempre orientados em uma perspectiva de que a entidade fosse um instrumento para a mobilização dos estudantes por suas demandas e para a disputa de projeto de Universidade e sociedade. Numa perspectiva também, em meio à atual situação política, de construir um pólo alternativo de esquerda que esteja conectado com as lutas dos trabalhadores e da juventude, batalhando por uma nova direção para o movimento estudantil nacional, de oposição à direção majoritária da UNE e às falsas alternativas da direita. Nesse sentido, reivindicamos a participação nessas gestões e na chapa Pode Chegar. Apesar das debilidades, esse ano tivemos importantes mobilizações na USP, nas quais o DCE cumpriu um papel importante. Começamos o ano com a mobilização contra os cortes de Zago na “PEC do fim da USP”, junto com os funcionários e professores, onde sofremos muita repressão. Fomos parte da construção e organização dos estudantes da USP na luta pelo Fora Temer e suas reformas, o que se expressou na participação ativa na histórica Greve Geral do dia 28 de abril, nos blocos da USP nos atos do primeiro semestre e na organização da caravana dos estudantes para a marcha à Brasília em 24 de maio.

Nesse ano, os estudantes da USP conquistaram a maior vitória do último período: a implementação das cotas étnico-raciais no vestibular da Fuvest. Junto com o movimento negro e indígena fomos parte dessa campanha, construção do projeto de cotas, abaixo-assinado, atos em frente a reitoria e disputa da consciência dos estudantes e representantes do Conselho Universitário. Não temos dúvidas que se trata de um grande e importante avanço e que coloca pro movimento estudantil o desafio de travar uma forte luta pela permanência estudantil na Universidade no próximo ano.

A direção majoritária da UNE e o papel do “Nossa Voz” no DCE da USP

Em nossa opinião, a vitória desse grupo político vinculado ao PT e PCdoB significa um retrocesso para a luta dos estudantes na Universidade, pois se trata de um setor que não tem interesse em levar as lutas às últimas consequências e privilegia os acordos de gabinete do que a mobilização. Para compreendermos essa dinâmica, é preciso discutir que papel esse grupo cumpriu esse ano nas gestões dos Centros Acadêmicos da USP e olhar atentamente o papel da direção majoritária da UNE hoje.

Na USP, o movimento “Nossa Voz” está presente em gestões de Centros Acadêmicos importantes como o da Letras, Sociais, História, Direito, entre outros. Na Letras, no primeiro semestre eles foram contra a criação de um comando de mobilização para preparar a greve geral do dia 28 de abril, contra as paralisações que foram propostas no curso e se posicionaram a favor da reforma curricular das licenciaturas. No segundo semestre, votaram no CCA (Conselho de Centros Acadêmicos), contra o indicativo de paralisação do dia 14/09, um dia chamado pelos trabalhadores para lutar contra o Temer e suas reformas. Além disso, seu material de chapa sequer falava “Fora Temer”.

Isso não é à toa, o PT/PCdoB abandonaram a luta concreta contra o governo Temer porque são parte de um acordo nacional para manter até 2018 esse governo corrupto e todos que estão sendo investigados por corrupção. Por isso, hoje Lula diz que é hora de parar de falar “Fora Temer” e que é preciso “perdoar os golpistas”. Ao mesmo tempo, o PT prepara alianças eleitorais com o PMDB em 8 estados para 2018.

No movimento estudantil, fazem exatamente o mesmo. Enquanto o DCE da USP organizava os estudantes para ir na Marcha à Brasília de 24/05 (foram oito ônibus de estudantes da nossa universidade) lutar contra Temer e suas reformas, sendo reprimido junto com os trabalhadores, a direção majoritária se negava a organizar caravanas para o ato. Não é por acaso que o presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM), o principal responsável no Congresso para aplicar as reformas, foi convidado de honra e discursou longamente no Congresso do PCdoB. O fato é que a direção majoritária da UNE não organizou os estudantes para lutarem contra a reforma trabalhista, contra os ataques dos governos e pra tomar as ruas, nem nas votações que salvaram o Temer e Aécio. Ou seja, não coloca o aparato estrutural e financeiro da maior entidade estudantil do país a serviço das lutas e das mobilizações.

Sua política de dirigir as entidades a qualquer custo, fazer acordos com as reitorias, burocracias e governos, para ajudar na desmobilização, é o que leva que parte da nova gestão do DCE da USP, a UJS/PCdoB, faça chapa com estudantes ligados ao MBL e que votaram contras as cotas na Unicamp. Também explica que nas eleições do DCE da USP tenham defendido avaliação docente junto com a reitoria, tenham se posicionado contra o aumento do repasse do ICMS pras estaduais paulistas e defendido o investimento privado na Universidade.

Fica evidente, pelo que tem feito na UNE, que a chapa Nossa Voz não quer uma entidade independente, que fortaleça a mobilização dos estudantes.

O papel da esquerda e os erros da última gestão do DCE e da chapa Pode Chegar e não Para

É preciso refletir que o setor do petismo se reciclou nas Universidades no último período. Ganharam eleições importantes de DCE’s no país e na USP vinham se fortalecendo desde o final do ano passado com a vitória nos CA’s de Letras, ECA e História, principalmente. Achamos que os setores da esquerda que eram majoritários no DCE e na chapa Pode Chegar tiveram alguns erros importantes, que se expressaram na busca de diversas unidades com a “Nossa Voz” dentro da universidade.

Partimos da reivindicação geral de diversos acertos da última gestão e da nossa chapa, os quais já colocamos acima. Isso não significa que não tivéssemos diferenças políticas, algo absolutamente normal em um período onde a esquerda se reorganiza e busca a superação do projeto de conciliação de classes do PT. Fizemos parte da chapa “Pode chegar e não para” justamente porque entendíamos a importância de construir a unidade entre os setores da esquerda, batalhar pela construção de um polo alternativo, e de derrotar a política do PT nas eleições de DCE. O campo político conformado na última gestão do DCE era o único campo da Universidade que tinha capacidade pra isso. O autoisolamento de setores como a Juventude Faísca e a ANEL, que fizeram pequenas chapas sem chance de disputa, se mostraram equivocados. Queremos valorizar aqui a movimentação de apoio dos companheiros do Território Livre, que no último momento chamaram voto na nossa chapa com o objetivo de derrotar a burocracia do PT/PCdoB.

Queremos colocar também que o resultado eleitoral foi fruto de diversos fatores. Sem dúvidas as dezenas de giros de militantes do PT e PCdoB para fazer a campanha da Nossa Voz foram importantes. Porém, também temos que buscar motivos políticos que ajudam a explicar o resultado eleitoral.

Acreditamos que um deles é que ao longo do último ano, faltou um polo político de esquerda que se diferenciasse permanentemente do petismo dentro da USP. Isso, em nossa opinião, foi uma opção política da maioria das organizações que compuseram nossa chapa. Achamos que a opção foi equivocada. Vimos isso de forma concreta na construção da calourada unificada, na chapa de RD’s, na tentativa de campanha unitária de diretas pra reitor a qualquer custo, que acabou por paralisar o DCE em alguns momentos do segundo semestre. A política de alguns setores do DCE de batalhar por uma frente única com o PT, fez com que a nossa gestão não tivesse política com cara própria e não conseguisse a fundo combater o fortalecimento desse setor dentro da Universidade.

Salvo nas próprias eleições de delegados para o Congresso da UNE, achamos que faltou a denúncia permanente do papel da direção majoritária da UNE. Era preciso mostrar pacientemente o papel do PT/PCdoB. Apesar da batalha interna que nós da Juventude Vamos à Luta demos, o material de campanha de nossa chapa, não continha praticamente nenhuma diferenciação com o petismo e a direção majoritária da UNE.

O mais importante é concluirmos que, ao não haver um forte polo político da esquerda que não se rendeu, daqueles que não são parte do acordo com Temer, se abriu espaço para o PT/PCdoB se fingirem de “alternativa”, que “também é de esquerda”.

Construir uma forte oposição ao DCE enraizada nas lutas

Sem dúvidas os desafios são enormes. A crise financeira da universidade vai ser respondida com muitas tentativas de cortes por parte da reitoria. Greves como a da Medicina em defesa do HU são o exemplo de como lutar em defesa da Universidade.

A nova gestão do DCE, em sua campanha, não defendeu o aumento do repasse do governo do estado para as estaduais paulistas. Já disse também que não se opõe totalmente a dinheiro privado dentro das universidades públicas. O movimento estudantil combativo, mesmo por fora do DCE, deve seguir ao lado do SINTUSP e da ADUSP exigindo o aumento do repasse e lutando contra a inserção dos interesses da iniciativa privada na universidade.

A recepção dos estudantes que entrarão pelo sistema de cotas e a luta pela permanência estudantil serão os maiores desafios para o movimento estudantil combativo da USP em 2018. A reitoria, após muita pressão, teve que ceder e aceitou na marra o sistema de cotas. Mas o seu projeto elitista vai trabalhar com a lógica de que esses estudantes não permaneçam na USP.

Enfim, 2018 vem aí. Os desafios são muitos. Construamos muita unidade de todos aqueles que fazem oposição ao projeto que estará à frente do DCE. Nesse sentido fazemos um chamado a todos os coletivos da oposição. Seja os que estiveram nas últimas gestões junto conosco, como o Juntos, RUA, UJC, Afronte e Sob, e também aqueles que estavam fora do DCE, como os companheiros da ANEL, Território Livre e Faísca, assim como todos os estudantes que se opõe à política do movimento Nossa Voz. Apostemos na nossa luta e na mobilização. Na unidade com funcionários professores. Esse segue sendo o nosso caminho para enfrentarmos a reitoria, e os governos de Alckmin e Temer.