A Praça Tahrir, no Cairo, teve um merecido descanso na sexta-feira (15). Pela primeira vez em três semanas, o palanque – e o trampolim – dos revolucionários egípcios pôde ter um repouso. Somente uns poucos irredutíveis se reuniram ali para exigir novas reformas ao Conselho Supremo das Forças Armadas, que tem administrado a transição para as eleições legislativas e presidenciais do próximo outono.
E com razão: na quarta-feira, dois meses e dois dias após sua saída do poder, o ex-presidente Hosni Mubarak foi colocado sob detenção provisória, bem como seus dois filhos, Gamal e Alaa, como parte de uma investigação sobre a repressão às manifestações nos meses de janeiro e fevereiro. Satisfeitos com essa decisão da procuradoria que eles pediam há muito tempo, e tranquilizados pelo fato de que o exército não se opôs a ela, os movimentos de jovens responsáveis pelo levante egípcio decretaram uma pausa.
Esse novo episódio do lento desmantelamento do regime de Mubarak deverá pôr um fim à angústia da contrarrevolução que nos últimos tempos pairava sobre o Cairo. Tanto que a justiça egípcia anunciou a dissolução do ex-partido do governo, o Partido Nacional Democrático (PND). No entanto, anunciar o fim da revolução parece precipitado. Os revolucionários, tão obstinados quanto ponderados, determinados a apagar o passado, avançam passo a passo, desaceleram quando preciso e aceleram no momento certo, com uma inteligência instintiva da relação de forças. Eles pretendem organizar uma nova manifestação na sexta-feira (22), que poderá dar um novo golpe nos últimos bastiões do antigo regime.
Em outros tempos, em outros lugares, um sistema tão detestado quanto o de Hosni Mubarak poderia ter caído em alguns dias ou algumas semanas. Mas a revolução egípcia tem algo de particular: ela confiou uma parte de seu destino às mãos da instituição militar, um corpo obscuro, do qual pouco se sabe além do fato de que não aprecia a desordem e a precipitação. Essa improvável parceria, que passava tranquilidade durante os primeiros dias da revolta, quando a polícia havia desertado as ruas do Cairo, logo se rompeu quando o ritmo das reformas e da movimentação anti-Mubarak perdeu fôlego. Com ou sem razão, os revolucionários atribuíram essa desaceleração ao conservadorismo inato dos militares e à sua proximidade com o ex-presidente, proveniente desse meio.
Por sorte, os chabab (jovens) arrumaram uma arma de dissuasão maciça: a Praça Tahrir. Cada vez que o exército resistia em satisfazer suas exigências, eles a invadiam às centenas de milhares. E com a regularidade de um metrônomo, algumas horas ou alguns dias mais tarde, os militares cediam.
Foi assim que, após a renúncia do velho chefe de Estado, no dia 11 de fevereiro, os revolucionários conseguiram: em 17 de fevereiro, as prisões do ex-ministro do Interior, Habib Al-Adly – o “Sr. Repressão” – e de Ahmed Ezz, o magnata do aço, grande organizador da fraude eleitoral; em 3 de março, a destituição do governo de Ahmed Shafik, nomeado pelo ex-presidente; em 30 de março, a demissão dos diretores dos jornais oficiais; em 2 de abril, a dos diretores da estatal de rádio e televisão; em 11 de abril, a prisão de Safwat Al-Sharif, um barão do PND; e, por último, a detenção do clã Mubarak e a dissolução do PND.
O ex-ditador, por enquanto, está sob vigilância policial, em um hospital – em Sharm El-Sheikh ou no Cairo, dependendo da fonte – , para onde ele foi levado após um pequeno acidente cardíaco que ocorreu quando estava sendo interrogado pela polícia. Segundo o presidente da Corte de Apelação do Cairo, Mubarak poderá ser executado se for reconhecido culpado de ter provocado a morte de manifestantes de maneira deliberada. Já seus filhos Alaa e Gamal, também acusados por crimes de corrupção, estão atrás das grades na prisão de Tora, no sul do Cairo.
É de lá que eles observarão o próximo ato da revolução, talvez o último. Os chabab estão exigindo a libertação de todos os prisioneiros políticos, o fim da citação de civis diante dos tribunais militares e a demissão de todos os governantes envolvidos com o antigo regime. Eles prometem permanecer mobilizados até que os Mubarak sejam condenados.
No delta do Nilo, onde se concentra boa parte da indústria do país, a rebelião assume um viés social. As greves se multiplicam, com palavras de ordem que pedem não só pela melhora nas condições de trabalho e pela criação de uma renda mínima, mas também pela reestatização de usinas privatizadas nos anos 2000 por Gamal Mubarak. A primeira erupção passou, mas a Praça Tahrir, cratera do vulcão egípcio, ainda ferve.
Tradução: Lana Lim