Aos 80 anos do brutal assassinato de Leon Trotsky, prestamos nossas homenagens ao revolucionário que, ao lado de Lenin, dirigiu a primeira revolução socialista da história com a conquista do poder pela classe operária na Rússia. Mas para além de consagrar o legado de Trotsky, queremos discutir sobre sua atualidade. Hoje a juventude segue em luta: Os jovens trabalhadores por aplicativos balançaram o país com duas greves nacionais; A juventude negra e pobre nas favelas e periferias batalha contra o genocídio da PM; As mulheres enfrentam a violência machista, lutam pelo direito ao próprio corpo e pela legalização do aborto e contra o nefasto governo Bolsonaro e sua ministra Damares; Nos embalamos em uma luta mundial contra a catástrofe climática capitalista, com greves escolares pelo clima e marchas em diversos países ; Lutamos em defesa do direito à educação para todos, contra a privatização das universidades e propostas de precarização como o ensino remoto. Em cada uma dessas lutas, o legado de Trotsky segue vivo.
Por que Stalin matou Trotsky?
Lenin e Trotsky foram os principais dirigentes do partido Bolchevique, responsável pela revolução de outubro de 1917 que conduziu os sovietes de trabalhadores ao poder conquistando o primeiro Estado operário da história. Porém, com as derrotas dos processos revolucionários em outros países e como resultado da profunda crise que abateu a União Soviética após uma intensa guerra civil, quando a burguesia contra-revolucionária tentou esmagar o Estado Soviético, ascendeu ao poder uma casta burocrática dirigida por Stalin. Com a morte de Lenin, coube a Trotsky encabeçar a batalha contra a burocratização do Estado Soviético, em defesa da verdadeira democracia operária e do internacionalismo marxista, já que para justificar sua política e resguardar seus próprios privilégios, o Stalinismo desenvolve a teoria do “Socialismo em um só país”.
Essa batalha política leva Trotsky a sofrer uma dura perseguição por parte de Stalin. Trotsky é expulso do partido e da própria URSS em 1929. Em seu exílio, não cessam as ofensivas contra Trotsky, que foi atacado por onde passou, até ser morto por um agente de Moscou no México em Agosto de 1940.
Mesmo expulso do partido e do Estado que ajudou a construir, Trotsky não abandonou a luta política contra a burocratização da união soviética e da terceira internacional. Seguia obcecado por construir partidos revolucionários, por fazer com que a luta da classe trabalhadora em todo o planeta avançasse e por uma revolução política na URSS que derrubasse a casta burocrática que assumiu o poder. Por isso, para Stalin era uma linha política eliminar fisicamente Trotsky. O erro de Stalin foi achar que com esse assassinato, enterraria também o legado do Trotskismo.
Stalin: O grande organizador de derrotas.
Ao assumir a liderança da terceira internacional e da URSS, Stalin conduziu a classe trabalhadora mundial a uma série de derrotas. Na Alemanha sob a ameaça da ascensão do nazismo, se recusaram a construir unidade com os setores operários para enfrentar o fascismo. Após a ascensão de Hitler, deram um giro brusco à direita defendendo a política da “frente popular”, defendendo formar governos com setores supostamente progressistas da burguesia para “enfrentar o fascismo”. Foram do ultra-esquerdismo ao oportunismo declarado.
Na batalha contra o fascismo Trotsky propôs a linha da Frente Única Operária, que significava fazer unidade de ação pontual com organizações operárias, mesmo que reformistas, para derrotar a extrema-direita. Mas Trotsky frisava da importância de manter a independência política dos comunistas e de não abandonar a perspectiva da revolução socialista. Perspectiva essa que claramente os PCs abandonaram, sob a orientação de Stalin, para formar governos de frente popular com as burguesias nacionais. Na Espanha, por exemplo, essa política levou os comunistas a formarem governos burgueses que reprimiram as mobilizações e greves operárias e abriu espaço para o golpe de Franco que tomou o poder e instaurou uma ditadura. Trotsky combatia já nesse período a política de conciliação de classes dentro do movimento revolucionário. Ele rechaçou a idéia de que a burguesia poderia cumprir algum papel progressivo e colocava que as tarefas “democráticas” estariam combinadas com as tarefas da revolução socialista, ou seja, nas mãos da classe trabalhadora e dos setores populares. A primeira frente popular da história, o governo de Kerensky na Rússia de unidade dos Mencheviques com a burguesia, foi derrotado pela insurreição das massas dirigida pelo partido bolchevique em outubro de 1917.
A atualidade do programa Trotskista
“Um partido revolucionário deve necessariamente basear-se na juventude. Inclusive, podemos dizer que o caráter revolucionário de um partido pode ser julgado pela sua capacidade de atrair para suas bandeiras a juventude da classe operária.
O atributo básico da juventude socialista e tenho em mente a juventude genuína e não os velhos de 20 anos reside na disposição de entregar-se total e completamente à causa da socialista. Sem sacrifícios heróicos, valor, decisão a história em geral não se move para frente. Porém o sacrifício somente não é o suficiente. É necessário ter uma clara compreensão do curso dos acontecimentos e dos métodos apropriados para a ação. Isso somente pode ser obtido por meio da teoria e da experiência vivida.”
Vivemos hoje a maior crise da história do capitalismo. Enfrentamos em todo o mundo duas pandemias, a pandemia de COVID-19 que se alastra com a negligência dos governos e uma pandemia de fome, miséria e desemprego. Nesse marco, os grandes capitalistas e seus governos propõem que os efeitos dessa crise seja despejado nas costas dos trabalhadores, do povo pobre e da juventude. Isso significa mais arrocho e retirada de direitos para que prevaleçam os lucros dos grandes empresários, em detrimento da vida de milhões.
A situação da pandemia é brutal porque o desmonte dos sistemas de saúde é uma política sistemática há anos, em todo o mundo. E ao invés de garantir uma quarentena geral com salário, renda e sem fome, os governos se preocuparam em garantir o lucro dos banqueiros, seguir pagando ilegítimas dívidas públicas e não mexer um milímetro nos privilégios dos velhos oligarcas.
No Brasil, governado pelo negacionista de extrema-direita Bolsonaro, os ataques à juventude se aprofundam de forma dramática. Para 2021, o governo quer cortar mais de 18% da verba para educação, enquanto aumenta os recursos para o ministério da defesa, engrossando a mamata das forças armadas. Junto com um projeto de ensino remoto que precariza o ensino e exclui estudantes. O único projeto que os governos capitalistas tem para a juventude é uma vida precária, um futuro de sem direitos, com cargas horárias de trabalho altas, sem condições de trabalho e salários baixos, como denunciaram os trabalhadores de aplicativos. Também destroem nosso futuro, à medida que caminhamos para o colapso climático por conta do aniquilamento do meio ambiente impulsionado pelo modelo de produção capitalista, totalmente irracional e insustentável. Não há futuro para a juventude dentro do sistema capitalista.
O “Programa de Transição” da Quarta Internacional segue vigente. É necessário impulsionar a luta da juventude, em conjunto com os trabalhadores, criando as pontes entre nossa situação imediata, a concretude das nossas demandas, e a bandeira da revolução socialista. Meia dúzia de bilionários aumentam suas fortunas, inclusive durante a pandemia, enquanto vivemos em condições cada vez mais precária. Em resposta a isso, o programa trotskista aponta saídas anticapitalistas.
Frente ao desemprego crônico que vivemos hoje, o programa de transição aponta a Escala móvel de salários e horas de trabalho. Em um momento onde o sistema financeiro imperialista nos massacra, impondo planos de ajuste contra nossos direitos, e dragando os recursos públicos pelo pagamento da ilegítima dívida pública ou pela PEC10 aprovada no congresso nacional durante a pandemia, podemos resgatar a política da estatização do sistema financeiro. Em meio a crise sanitária do coronavírus, sob a necessidade de produzir EPI, respiradores, medicamentos e todos os insumos necessários para o combate à pandemia, levantamos a bandeira de expropriação, sem indenização e só controle dos trabalhadores, das grandes fábricas para colocar a produção a serviço da vida dos trabalhadores e trabalhadoras.
Organizar a juventude
Seguimos hoje a batalha de Trotsky pela construção de uma alternativa de esquerda. Sabemos que só com nossa organização que podemos derrotar nossos algozes, os governos burgueses que nos atacam, que se materializa hoje no governo de extrema-direita de Bolsonaro. No calor das lutas, por educação gratuita e de qualidade, por salário e emprego, pelos direitos da mulheres, negras e negros, LGBTs, no enfrentamento ao autoritarismo e em defesa do meio-ambiente que se constroem organizações de combate, que encabecem essas batalhas.
Nós da juventude Vamos à Luta (CST-PSOL + Independentes) somos parte dos que dão essa batalha no cotidiano, enfrentado as velhas direções oportunistas e traidores do movimento estudantil. Batalhamos pela construção de polos alternativos, que apostem na luta e na mobilização para garantir vitórias. Segue sendo uma necessidade histórica a tarefa de unificar os revolucionários, com objetivo de reconstruir a Quarta Internacional. A Conferência Latino-Americana e dos EUA, organizada pela Frente de Esquerda argentina (FIT-U), foi um importante passo nesse sentido, pois reuniu diversas organizações revolucionárias do continente para debater nos marcos do enfrentamento à pandemia e pela luta que os capitalistas paguem a conta da crise. Foi uma conferência importante, que aprovou um documento político unitário e uma jornada internacional de mobilizações para o dia 27/08, com atos em frente às embaixadas dos EUA em apoio à rebelião antirracista no país, pela suspensão do pagamento da dívida pública e contra a ingerência imperialista na América Latina. É necessário abraçar esse exemplo e seguir impulsionando a unificação dos revolucionários em nosso continente e em todo o planeta, pela construção de uma direção alternativa que supere a crise de direção. Até o socialismo, sempre.
“A vida é bela. Que as futuras gerações a livrem de todo mal e opressão, e possam desfrutá-la em toda sua plenitude.” Leon Trotsky.