Seguir o exemplo da juventude francesa
Priscila Guedes / Paula Alves*
Massivas mobilizações tem acontecido na França, desde o início do mês de março, contra a proposta de reforma trabalhista do governo de François Hollande, do Partido Socialista. Nas diferentes jornadas de mobilização, trabalhadores e estudantes tomaram as ruas aos milhares no país inteiro. Atos de rua, greves e paralisações, trancaços nos colégios e Universidades, ocupações das praças tem se espalhado por todo país. E a juventude tem cumprido um papel fundamental nesse processo.
Não é difícil entender porque isso acontece. A proposta de reforma trabalhista apresentada pelo governo na lei Khomri retira direitos trabalhistas, aumenta a precarização e facilita as demissões. O desemprego na França bateu novo recorde em fevereiro com um aumento de 1,1%, o maior desde setembro de 2013, e atingindo 3,39 milhões de pessoas. No total, o desemprego chega a 10%, entre a juventude esse índice aumenta para 25%. O cenário segue sendo o de crise econômica mundial, com os governos aplicando uma série de medidas de ajuste pra jogar nas costas dos trabalhadores e da juventude a conta dessa crise. E é isso que também faz hoje o governo de Hollande. Por isso, tem sido muito importante a resposta contundente que os trabalhadores e a juventude tem dado.
A unidade entre a juventude e os trabalhadores aponta o caminho
Os estudantes colocam de forma clara que eles são os trabalhadores de amanhã e, por isso, devem se mobilizar desde já. Não só nas Universidades, mas também nas escolas secundaristas, os estudantes têm se organizado pra combater esse projeto de reforma. A unidade entre trabalhadores e juventude se demonstra desde o início com expressões de ambos lados. Essa é uma particularidade desse processo de mobilização que nós da juventude Vamos à Luta consideramos muito importante: é fundamental que a juventude se mobilize para apoiar as lutas dos trabalhadores e também unificar as lutas dos trabalhadores e estudantes.
Lembrando os indignados espanhóis e o Occupy Wall Street, a juventude francesa tem ocupado as praças todas as noites num movimento chamado “Nuit Debout”. Começou na paralisação nacional do dia 31 de março, com a ocupação da Praça da República em Paris, e já se estendeu por mais de 60 cidades francesas. Todas as noites milhares de pessoas se reúnem para debater sobre a reforma trabalhista e também a crise econômica, a crise dos refugiados, etc., se organizando em assembleias e grupos de discussão. Além disso, os estudantes têm mostrado um grande nível de organização, realizando assembleias gerais nas escolas e Universidades, se reunindo em coordenações regionais e uma coordenação nacional para qual se elegem delegados.
Na França e no Brasil é preciso lutar contra os governos que aplicam os ajustes e construir uma alternativa dos que lutam
Os estudantes e trabalhadores para lutar contra a reforma trabalhista tem enfrentado a repressão e o estado de emergência imposto pelo governo “socialista” de Hollande desde novembro do ano passado após os atentados em Paris. Hollande se valeu de uma lei de 1955 para instaurar o estado de emergência e queria incluir esse mecanismo na Constituição, proposta da qual teve que recuar pela pressão das ruas. Em um dos atos ocorridos neste mês de abril, 130 estudantes foram detidos. Essas são as medidas que esse governo se utiliza para tentar conter a resistência que existe contra seu projeto de ajustes. As massivas mobilizações que ocorrem hoje na França demonstram a crise da social-democracia e dos governos de conciliação de classes que quando governam deixam claro seu verdadeiro caráter e aplicam ajustes contra a classe trabalhadora, a juventude e a maioria da população. Isso é parte do que vemos também hoje no Brasil, com o governo da Dilma e do PT que corta direitos trabalhistas e corta verbas das áreas sociais, que realizar uma nova reforma da previdência para aumentar a idade de aposentadoria e, como resposta às gigantescas manifestações de junho de 2013, sanciona a lei anti-terrorismo pra criminalizar quem luta. Assim como na França é preciso derrotar Hollande, o PS e seu projeto de reforma trabalhista, aqui no Brasil, também é fundamental lutarmos contra o governo Dilma e o PT, para derrotar todos seus ataques e construir uma alternativa nas lutas, greves e mobilizações.
Cercar de solidariedade as mobilizações da juventude e dos trabalhadores na França
Em diversas cidades europeias, têm ocorrido atos em apoio à luta de juventude e dos trabalhadores franceses contra a reforma trabalhista. O papel da juventude francesa com participação ativa na luta dos trabalhadores contra a reforma trabalhista deve servir de exemplo para a juventude brasileira. Tanto na França como no Brasil, a política dos governos é jogar a conta da crise econômica nas costas do povo, seja arrochando salários, retirando direitos ou criminalizando aqueles que se rebelam. Por isso, é fundamental cercar de solidariedade todos os lutadores que se levantam contra esses ataques. Nós da Juventude Vamos à Luta entendemos que é urgente, neste momento, cercar de solidariedade o importante processo de luta que ocorre hoje na França, é nossa tarefa apoiar todas as mobilizações que ocorrem enfrentando os planos de ajuste dos governos pra dizer que a juventude e os trabalhadores não vão pagar pela crise.
*Diretora do DCE da USP / Juventude Vamos à Luta RS