Ensino Remoto Não! Quarentena Geral já!

Diversas universidades pelo país começam a debater o retorno às aulas, em geral como ensino
remoto ou EAD, adotando substituição das disciplinas presenciais por alguma forma de
atendimento a distancia de seus alunos. Queremos com esse texto discutir a situação que vive
o país e nossa opinião sobre a adoção do ensino remoto pelas universidades públicas do país.
O governo Bolsonaro já havia aumentado o limite da carga horária da modalidade EAD para
40% (antes eram 20%) em 2019.
Desde o início do mandato Bolsonaro e Weintraub (que sucedeu a Velez Rodríguez) deixavam
claro serem inimigos da educação pública e das universidades brasileiras, não à toa em 2019 e
2020 as bolsas de pesquisas da CAPES e CNPq foram cortadas, bem como o orçamento
reduzido em R$ 20 bilhões de 2019 para 2020. É nesse contexto de redução de orçamento e
corte de verbas das universidades públicas, avanço do Covid-19 que esse debate começa a
surgir. O Ministro da Educação chegou a dizer que separaria o joio do trigo, “as universidades
que estiverem tendo aula serão premiadas”, não deixando dúvidas que utilizaria de chantagem
e das verbas do orçamento para incidir sobre a autonomia universitária e sobre quem adote o
método do isolamento social e a suspensão das aulas, temas que o governo tem enfrentado
cotidianamente.

As conexões à internet nas universidades

Na UFRJ, por exemplo, já foi concluída a pesquisa de docentes, discentes e técnicos
administrativos sobre o acesso à internet e suas respectivas estruturas. OS dados, divulgados
no último jornal da AdUFRJ dos 45.000 alunos, 17 mil responderam ao questionário, significa
que menos da metade dos alunos sequer responderam suas condições de acesso, apenas 24%
dos técnicos administrativos responderam o questionário, enquanto os docentes tiveram 73%
de respostas. Do total do corpo da universidade, 71 mil pessoas, 27 mil responderam o
formulário, ou seja, 38% da comunidade da universidade.
Utilizando o exemplo da UFPA, em que os Centros Acadêmicos, do Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas foi responsável por organizar o mesmo tipo de pesquisa, apenas 19%
responderam, sendo que 60% destes disseram que conhecem alguém que não respondeu o
formulário, por não ter acesso a internet. No IFCH da UFPA, 54% dos estudantes declararam
acessar internet por celular ou não possuir acesso a internet.
Deve-se colocar também em discussão a defesa da universidade pública, de seu tripé, ensino,
pesquisa e extensão, algo que seria prejudicado com a aplicação do ensino remoto ou à
distância. Para além disso, pelo menos uma parcela de técnicos administrativos que no
momento estão em trabalho remoto, teriam de voltar ao trabalho, aumentando a circulação
de pessoas nas ruas, utilização do transporte coletivo. Podemos considerar ainda a
possibilidade das universidades fornecerem suas salas de informática, em um cenário de corte
de verbas e ajuste brutal do governo, com a educação superior na mira, é difícil imaginar que
as condições sanitárias, de tecnologia e acadêmicas consigam suprir os e as estudantes, pois a
poucos meses atrás faltava água e bebedouro em alguns setores da UFF.

O ensino remoto no Brasil deve ser debatido em torno de um problema social
Segundo dados do Cetic – Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da
Informação – de 2018, 70 milhões de brasileiros não tem acesso a internet ou tem acesso

precário, e 56% das pessoas usam a internet a partir do celular. A cada cem casas no Brasil, 47
tem internet banda larga fixa. Esses dados revelam que o acesso à internet no país está muito
longe de ser democrático, mais de 10 milhões de pessoas nunca acessaram a internet. Outra
situação notória, é a qualidade das conexões, a União Internacional de Telecomunicações
considera ideal 1.500 acessos por antena, em São Paulo o pico pode ser de 3.500, e na
periferia até 18 mil, escancarado a cobertura completamente insuficiente.
A conexão à internet não é o único fator que deve ser considerado em uma situação extrema
como a pandemia do Covid-19. No Brasil, 1 em cada dez casas não possui abastecimento de
água todos os dias, são 18,4 milhões de pessoas que não conseguem garantir água para fazer a
higienização necessária para evitar o contágio pelo coronavírus.
No quesito de escoamento de esgoto, outra forma de contágio já comprovado por algumas
pesquisas, 62% das residências são ligadas a redes gerais, sem considerar necessariamente que
esses dejetos tenham tratamento adequado. Para além disso a cesta básica, durante a
pandemia, subiu em 15 das 17 capitais do país pesquisadas em março.
Vários de nossos colegas passam também por problemas de ordem financeira, agravada por
não poderem arrumar trabalho em meio a pandemia, o acesso ao seguro desemprego
aumentou 76% na primeira quinzena de maio em relação ao mesmo período de 2019. A renda
auxiliar liberada por Bolsonaro é de R$600,00, valor equivalente a quase uma cesta básica em
várias cidades do país, o que impacta no orçamento já que no Brasil, as contas de luz, água, gás
e aluguel não estão suspensas. Há ainda a preocupação com nossa saúde mental, no Brasil o
suicídio entre jovens de 15 à 29 anos cresceu 10% desde 2002, na situação atual diversos
fatores podem aumentar esse problema, estamos impedidos momentaneamente de
socializações, as mortes aumentam e se aproximam cada vez mais de nós, atingindo familiares
e amigos, uma pressão que aumentaria se tivéssemos que nos preocupar com a carga de
trabalho que a universidade exige. Não é difícil ver esses dados e imaginar que o ensino
remoto ou EAD poderia provocar evasão em massas nas universidades públicas,
principalmente dos alunos mais pobres.

É preciso rejeitar o Ensino Remoto ou EAD e lutar por quarentena geral e manutenção das
bolsas!
Utilizamos exemplos de duas universidades, porém acreditamos que elas dão sinais
importantes, sabemos que algumas universidades ainda estão em debate e realizando suas
pesquisas, porém o diagnóstico da nossa realidade social permite projetar que por mais que
haja esforço é impossível de que não há condições objetivas para garantir que o ensino via
internet seja aplicado nas universidades do país.
O principal papel das universidades hoje é ajudar no combate ao coronavírus, muitas das
universidades publicas tem realizado pesquisa sobre o vírus, produzidos ventiladores
mecânicos como a USP, álcool em gel como a UFRJ, ações que vemos muito positivamente.
Somos conscientes que inúmeros estudantes estão preocupados com a continuidade das aulas
e de sua formatura ser prejudicada, mas por tudo que foi apresentado não acreditamos que é
possível ter isonomia no ensino. Por isso vemos como necessário rejeitar a proposta de ensino
remoto, exigindo que as reitorias, em vez de administrar e aplicar o ajuste fiscal em curso,
mesmo com as mortes do país aumentando a cada dia, e o coronavírus avançando, exijam

verbas para garantir pesquisa, manutenção e renovação das bolsas de estudo enquanto durar
a pandemia, para que os discentes não fiquem desamparados.
Nossa luta deve ser em torno de quarentena geral com renda mínima de um salário mínimo
para classe trabalhadora e estudantes, assegurando que precisem sair de casa para ir apenas
ao supermercado e farmácia, se necessário. Para isso é preciso derrotar o governo Bolsonaro e
Mourão, somando-se às mobilizações virtuais e físicas, sempre mantendo o distanciamento
social e as medidas de contenção dos contágios, para por para fora o governo genocida de
Bolsonaro e Mourão.
É preciso que a UNE/UJS tenha uma posição clara contra o ensino remoto ou à distância, em
vez de atuar pelo “menos pior” como fizeram na UFF. A juventude mesmo com a dificuldade
imposta pela pandemia, conseguiu derrotar o governo Bolsonaro/Mourão e Weintraub,
impondo o adiamento do ENEM. Devemos seguir esse exemplo, no dia 15/05, um ano de
Tsunami da educação, o #adiaenem conseguiu empurrar o governo a uma derrota. É possível
vencer, para isso precisamos organizar uma jornada de luta, unindo o movimento estudantil, a
UNE, UBES às centrais sindicais como a CUT, CTB e demais movimentos sociais, para impor
quarentena geral com salário integral, priorizando a vida em lugar dos lucros!

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