Juventude colombiana desafia extrema-direita e aponta o caminho

por Kayrós, da Juventude Vamos à Luta

Escândalos com empreiteiras, reforma trabalhista, cortes na educação pública, anistia para militares, corrupção e um país governado pela extrema-direita. Essa situação se assemelha muito ao Brasil, mas estamos falando da Colômbia.

Em situação econômica precária e um governo que pressiona contra a população os custos da crise, o país viu ganhar as eleições de 2018 o representante da ultra-direita, Iván Duque, propagador de ódio aos imigrantes venezuelanos, com propostas de reformas tributárias,econômicas e judiciais para livrar a cara da cúpula militar que cometeu crimes contra a humanidade e encher os bolsos dos grupos empresariais. Confiante, Duque reafirmou na posse cada uma de suas propostas – ainda incluindo um aumento de impostos de 16% nacesta básica. Porém nem Duque, nem empresários e nem milicos colombianos poderiam ter previsto a situação do governo hoje!

O otimista Iván Duque, durante a campanha eleitoral, se enganou redondamente

Governo na berlinda e vitória estudantil

Mal começou o governo e estouraram rebeliões de jovens, desvinculados das antigas FARC, protestando nas ruas. Ao longo de dois meses, 25 das 32 Universidades Nacionais estiveram em greve, amplamente apoiados pelos professores e pela população. Marchas de dezenas de milhares tomaram as ruas das principais cidades colombianas, e o Governo Duque se viu encostado na parede, com 68% de desaprovação aos 120 dias de mandato – um recorde! Como resultado, os estudantes arrancaram US$ 150 milhões para as universidades nacionais até o fimdo ano de 2018; para 2019, serão US$ 800 milhões a mais! Mas longe de estarem satisfeitos, os estudantes se mantém mobilizados para arrancar ainda mais do nefasto Governo Duque!

Os professores seguem o mesmo caminho e já marcaram um dia de paralisação geral, processo que também impulsiona outras categorias a lutar, como os funcionários públicos e os da iniciativa privada.

As derrotas do Governo não foram apenas frente aos estudantes: uma a uma, as propostas mais radicais foram derretendo. As principais simplesmente caíram: a reforma do judiciário para inocentar militares criminosos, narco-políticos e corruptos; a Lei de Financiamento,para transferir dinheiro de áreas sociais para o empresariado; mais cortes na educação superior – tudo isso caiu! Sobrou a não-prisão de empresários envolvidos com esquemas da Odebrecht e, mesmo assim, sob muita bronca popular. Essas conquistas demonstram queé possível se organizar, lutar e obter vitórias contra os governos de extrema-direita!

Marcha estudantil na Plaza de Bolívar

Os estudantes devem se organizar para barrar os ataques de Bolsonaro!

Assim como na Colômbia, o Governo Bolsonaro pretende aplicar uma agenda de medidas contra a juventude, o povo e as mulheres! O futuro Governo já escalou como Ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, uma fundamentalista religiosa, defensorado “Estatuto do Nascituro”. Essa mulher é fundadora de uma ONG acusada pelo Ministério Público de sequestro, tráfico e exploração sexual de crianças e incitação ao ódio contra indígenas! Mas o movimento feminista que colocou milhões de pessoas nas ruas no dia29 de Setembro pelo #ELENÃO está atento e radicalizado, e o grupo “Mulheres Unidas Contra Bolsonaro” já chamou um ato em SP para o dia 22 de Dezembro, contra Damares!

Ato #ELENÃO de 29 de setembro, em São Paulo

Assim como as mulheres, a juventude também deve preparar as mobilizações contra o Governo, e isso começa por construir, um calendário de lutas unificado dos estudantes de todo o país. Infelizmente a direção majoritária da UNE e da UBES (a UJS/PCdoB e a JPT)estão imóveis: após o segundo turno, em que se jogaram no vira-voto, desapareceram e nada falam, nem chamam a organizar! O mesmo ocorre com as direções das principais Centrais Sindicais do país: CUT, CTB etc, que não apontam nenhum caminho! Nas últimas semanas,diante dos escândalos de corrupção que atingiram em cheio o futuro Governo, essas direções ficaram mudas, só repetindo o mantra “Lula Livre”, sem tocar na necessidade de mobilização e organização da classe trabalhadora e dos movimentos sociais em defesa dosnossos direitos!

É necessário organizar a luta contra as propostas anti-populares do governo desde já, como a Reforma da Previdência e a aplicação da Reforma Trabalhista, a cobrança de mensalidade nas universidades públicas, o projeto de Ensino a distância (cujas diretrizesjá foram homologadas pelo MEC no fim de Novembro), e o Escola sem Partido. Englobando pautas conservadoras, esse último propõe uma verdadeira censura aos professores, que forem “flagrados doutrinando” seus alunos. Apesar de ter sido retirado da pauta da ComissãoEspecial do Congresso Nacional, esse projeto certamente voltará no ano que vem, e será necessário muita luta para derrotá-lo!
O exemplo da juventude Colombiana é fundamental, e demonstra que com organização e luta é possível vencer e enterrar de vez os terríveis planos do Governo Bolsonaro!

Para saber mais sobre a situação colombiana em detalhes, veja o texto do camarada Rodrigo Ayala no site da CST-PSOL.