NOTA DE REPÚDIO À VIOLÊNCIA POLICIAL CONTRA A MARCHA INDIGENA EM DEFESA DO TIPNIS
FÓRUM SOCIAL PAN-AMAZÔNICO (FSPA)
O Fórum Social Pan-Amazônico (FSPA), coletivo composto por mais de 50 organizações e movimentos sociais do Brasil, Peru, Estado Plurinacional de Equador, Estado Plurinacional de Bolívia, Colômbia, República Bolivariana da Venezuela, República Cooperativa da Guiana, Suriname e Guiana, repudia veementemente a violenta, covarde e brutal agressão que as forças policiais bolivianas cometeram contra os indígenas do Território Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure (TIPNIS).
Há mais de 40 dias estes indígenas encontram-se marchando em defesa de seu território, ameaçado pelo governo boliviano e pela empreiteira brasileira OAS, que querem construir uma rodovia que passará por dentro daquele parque sem o consentimento das comunidades que o habitam. A intenção dos manifestantes é ir de Trinidad até La Paz, exigir que o presidente Evo Morales escute as populações que serão impactadas.
Não é de hoje que governos latino-americanos servem para implementar as agendas das grandes corporações, nacionais e internacionais, sem se preocupar com o que pensam ou sofrem os povos, em especial, os povos indígenas. Em nome de um desenvolvimento que já destruiu mais de um terço de todos os recursos naturais do planeta, destroem-se florestas, rios, vidas.
Reafirmamos que o direito dos povos originários de manterem suas culturas, suas identidades e seus territórios é sagrado. Povos indígenas e quilombolas devem ter suas terras demarcadas e juntamente com as comunidades tradicionais ter reconhecidos seus direitos à autonomia e ao autogoverno sem que isto signifique separatismo ou cisão do território nacional. Isto significa que nenhum projeto pode ser implantado sem o prévio consentimento das comunidades que vivem nestes territórios. Somos contra mega-projetos que alteram a geografia, destroem o meio-ambiente, desalojam populações, afogam culturas, gerando miséria e sofrimento. Somos contra o agronegócio e modelos que exploram a terra com o intuito de lucro. Defendemos o direito inalienável de todos os seres humanos de viverem em paz, com saúde, educação, moradia e todas as garantias para desenvolverem plenamente suas potencialidades.
O que aconteceu no dia 25 de setembro não pode ser de forma nenhuma aceito. Nada justifica a violência que irmãos e irmãs indígenas sofreram. Certamente todos os abusos e autoritarismos serão mundialmente denunciados.
Exigimos que todas as mulheres e homens presos sejam imediatamente libertados. Que nenhum deles seja processado por ter se defendido dos violentos ataques que sofreram. Que nenhum deles seja criminalizado por lutar pela justiça, pela igualdade, por uma forma de viver que não leve ao fim do planeta.
O FSPA está ao lado de todos aqueles que lutam por um TIPNIS livre da opressão e ganância do capital. Esta luta não pode e não deve ser interrompida.
VIVA O TIPNIS LIVRE!
VIVA A PAN-AMAZÔNIA LIVRE!
Belém, 26 de setembro de 2011
COMITÊ DE ARTICULAÇÃO DO FSPA
Abaixo nota do La Protesta, organização política boliviana contra a repressão do governo Morales
Greve geral contra governo assassino e para que anule por lei a estrada pelo Tipinis
La Protesta (Bolivia)
Evo mente: Somente ele pode haver dado ordem da repressão
Os anúncios de Evo Morales dizendo que “repudia” a repressão aos indígenas que ele mesmo ordenou indignam pela hipocrisia e covardia, tratando de colocar a responsabilidade principal nos próprios policiais. E ainda por cima o presidente se queixou “A culpa é de todos”. Como de “todos”? Você, senhor Evo Morales como presidente da Bolívia não tem atribuições de comando sobre a polícia e as Forças Armadas? Se é uma irresponsabilidade total, por que se mantém a frente do país?
É impensável que Evo não estivesse inteirado na mesma tarde de domingo da repressão. Por que esperou 24 horas antes de dizer qualquer coisa, se ele mesmo não havia ordenado? Como poderia não estar informado? Supondo que não tivesse informantes diretos na zona, os meios de comunicação que informaram imediatamente, como Erbol por exemplo. Por que não deu uma imediata contra ordem de liberar a todos os indígenas e lhes dar alimentos e água e pedir-lhes perdão? Na manhã da segunda-feira, todos os jornais noticiaram, com exceção de Cambio que, como de costume inventou uma incrível história. No entanto, Evo não disse nada até a tarde. Por acaso não lê jornais ou não vê a TV o senhor presidente? Foi o povo de Rurrenabaque que deu uma lição ao mundo ao se mobilizar, enfrentar a polícia e liberar aos irmãos indígenas. Não foi o presidente falso “indígena” da Bolívia.
A repressão provocou uma tremenda crise do governo, com a renúncia da ministra da defesa em protesto. “Não assim! Acordamos com o povo fazer as coisas de outra maneira”, disse a ministra Cecília Chacón. É importante que haja quem tenha princípios dentro do MAS. Felicitamos a Cecília Chacón por sua digna carta de renúncia.
Em contraste, o hipócrita e covarde Sacha Llorenti renunciou dizendo que não havia ordenado a repressão quando já havia reivindicado publicamente e havia atribuído a ordem a um fiscal que o desmentiu. Recordemos que Sacha Llorenti tem contas pendentes pelo assassinato de dois jovens em Caravani.
O presidente assustado pela rebelião popular, como ocorreu no gasolinazo em dezembro, retrocede, mas tenta enganar o povo. Disse que agora a estrada deve “debater-se” e antes havia falado de um “referendum”. Nem debate, nem referendum senhor presidente. Tem que cumprir o que diz a constituição, que os primeiros que tem que decidir são os indígenas que aqui habitam. Eles já decidiram em seu organismo representativo e democrático, a assembléia de magistrados que não querem os Tipinis na estrada. Que parte não entendeu senhor presidente?
Agora exigimos investigação independente, com uma comissão especial que integrem as organizações indígenas, da repressão e duro castigo aos responsáveis, começando em primeiro lugar pelos que deram as ordens.
Exigimos também que se anule por lei a estrada pelo Tipinis. Basta de tentar burlar o povo! Já são poucos os que crêem no senhor presidente!