Machismo: ciladas e disfarces

Foi criada e educada para ser submissa, a televisão lhe dizia que ela tinha que ser coisa, seus parceiros todos a tratavam como coisa e não poucas vezes a jogaram fora. Um dia a “coisa” resolveu cantar, e com sua música assumiu ser “coisa”, “objeto sexual”, “cachorra”, “puta”. Estava rompida a hipocrisia, mas as relações que construíram a menina pra ser coisa permane…cem. O baile, o rebolado, a música escrachada é talvez uma forma de catarse, de denúncia quem sabe. (consciente ou não).


Mas o sistema não custa a se apropriar da “denúncia”, esvaziá-la de sentido e transformá-la em mercadoria. Longe de levar a reflexão o canto agora só faz a galera descer até o chão, e muitas meninas a quererem e gostarem de ser tratadas como “coisa”, um desses itens que compramos na feira, tipo melancia, pêra, filé…

Esse é o machismo dos nossos dias, liberal, flexível, tão bem embalado que chega até a parecer libertário. Um machismo que faz rir e rebolar até os/ as que se dizem feministas. Um machismo que sabe se adaptar as críticas e as derrotas históricas que sofreu ao longo dos anos. Um machismo que é capaz de nos ouvir, pois o sistema que nos quer como mercadoria também nos quer como consumidoras.Você pode estar no mercado de trabalho, desde que o seu salário seja inferior ao dos homens. Você pode votar, você pode até ser presidenta da república, desde que esqueça esse papo de leis feministas tipo legalização do aborto. Você pode fazer o quiser, dar pra quem quiser, desde que os homens também não percam o direito de fazerem o quiser com você, inclusive te bater ou te violentar, ah! Não esqueçam de agradecer o favor!
Esse machismo fala e fala muito alto, muitas vezes com voz de mulher, nos stand up’s, nas letras de músicas, nos programas de TV, nas leis, nas escolas, nas famílias e até nos discursos de alguns companheiros. Diz que não existe mais machismo, que isso é invenção de mulher mal-amada e o que feminismo – eis o cúmulo de todas as inversões! – é careta, conservador, puritano.
Em meio a tanto barulho, tanta confusão é preciso celebrar o verdadeiro feminismo que nem de longe se parece com essas falsificações que o sistema nos empurra. Ser feminista é querer o fim de toda e qualquer opressão e não uma inversão dos lugares de oprimido e opressor, feminismo não é revanchismo, igualdade de gênero não é querer transformar o corpo masculino em mercadoria. Não, o feminismo não é liberal, não é capitalista, é libertário e socialista, pois sabe que é impossível que haja o fim das opressões de gênero dentro de um sistema que tem como base a dominação e a exploração de uma classe pela outra.

Por Joice Souza
Estudante de Comunicação Social – Jornalismo/UFPACoord. Nacional da Executiva Nacional de Estudantes de Comunicação/Enecos.