Ao Movimento Estudantil (M.E) UFF

Juventude Vamos à Luta!


Essa nota tem a intenção de ajudar no realinhamento do debate do movimento estudantil da UFF. A última polêmica, que se expressou em cartas dos coletivos estudantis é muito importante, e devemos aproveitar a contraditória oportunidade que ela nos abre. É uma oportunidade de reflexão. Porém, não uma reflexão vazia, e sim uma reflexão que nos leve para a ação e para mais lutas e vitórias para o conjunto dos estudantes da UFF. Por conta da complexidade dos temas e do público alvo da carta, a mesma ficou extensa.


1) 2011 – O ano da indignação!


2011 é o 1968 da nossa geração. Mesmo agora, depois de tantos acontecimentos, até na velha Rússia do Czar e de Lênin a população está em luta contra o resultado das eleições naquele país. O ano inteiro foi marcado pelo crescimento do questionamento concreto ao capitalismo. Apesar de confusas e nem sempre corretas, o mais importante é que a população tem dado respostas. A juventude cumpriu um papel fundamental, desde a Praça Tahrir até Puerta del Sol. Apesar do ritmo diferenciado, os operários da construção civil, os bombeiros, os professores das redes estaduais, os metalúrgicos do Paraná e as nossas ocupações de reitoria são exemplos da versão tupiniquim dessa indignação. A conclusão que temos que tirar do ano é de que lutas são possíveis e vitórias muitas vezes são inevitáveis. Porém, começar a se movimentar é apenas o início de uma longa caminhada.

Do nosso ponto de vista há uma tendência criada. Por conta da crise, da qual o Brasil não está descolado, o governo Dilma e o Congresso corrupto estarão mais empenhados em 2012 para atacar e retirar direitos. Seguirão os cortes e é provável que tentem mexer na previdência novamente. O nível de consumo já diminuiu em 2011 e a indústria retraiu. Os preços dos nossos produtos de baixo valor agregado, como a soja, tendem a diminuir. Os programas “sociais” como o bolsa família seguirão pífios e a reforma agrária é uma piada, nos mesmos níveis e modelo do que nos tempos de FHC. O tema da corrupção deverá seguir em pauta, pois não acreditamos que se trate apenas de um problema moral de um ou outro ministro do governo, e sim que este é o modus operandi de todo o governo e do regime, já que a corrupção é o óleo desta engrenagem chamada governabilidade.

Aproveitar as fissuras, unificar lutas, enfrentar burocracias como fizeram os servidores em relação a direção da FASUBRA, são algumas das tarefas colocadas. Mesmo sendo um ano eleitoral, o que prejudica em partes, apostamos que teremos mais cisões e crises, e por isso mais oportunidades e lutas também no movimento estudantil. Sendo importante que a esquerda não repita os erros desse ano que passou, seja no movimento sindical com as posturas da CSP-Conlutas entrando na tripartite da construção civil ou se negando a unificar a greve das universidades através do ANDES-SN. Isso é necessário para derrotar o plano de ajuste do governo PT/PMDB e os burocratas sindicais das centrais lulistas, sobretudo CUT e Força Sindical.


2)Concepção de movimento estudantil


2.1) Juventude de combate e mobilização


Por conta das notas lançadas, sentimos necessidade de conversar sobre concepção de movimento estudantil. Falaremos da nossa. O Vamos à Luta é uma juventude de combate. Quem é do Vamos à Luta tem acordo com um programa de ação para a universidade e para a educação, assim como para o conjunto do movimento estudantil.

Talvez nossa principal característica seja a confiança nos processos de mobilização como os únicos capazes de garantirem vitórias concretas e contundentes. Nesse sentido, materializarmos uma vitória no CUV, por exemplo, só é possível se nós estivermos mobilizados.

Em 2012 temos que superar campanhas ao estilo da que foi construída ao redor dos 10%do PIB, pois a mesma foi apartada das lutas concretas que existiram, tratando a reivindicação descolada da necessidade de unificar as ocupações de reitoria, as greves estudantis e dos servidores. Isso será importante para uma disputa real para derrotar os burocratas juvenis que controlam a UNE, transformando nossa entidade numa sub-secretaria da corrupção do ministério dos esportes e do MEC.


2.2) Politização


Somos um coletivo que se esforça bastante em politizar os debates. Achamos que o movimento estudantil deve ser politizado e deve estar preparado para dar respostas aos fatos da conjuntura. Entender o que se passa na universidade, nos cursos, na cidade, no Estado, no Brasil e até no mundo, é uma tarefa importante.


2.3) Democrático


O movimento estudantil que defendemos é radicalmente democrático, por isso mesmo não desqualificamos as polêmicas reduzindo-as. Também não achamos correto não debatê-las. Se o movimento é democrático tem a obrigação de debater diferenças. Para nós, as diferenças não podem ser demonizadas. Tentar reduzi-las classificando-as como “picuinhas” não é saudável. Aliás, é maniqueísta e antidemocrático. Quando é a nossa opinião, está correto, quando é a dos outros, é picuinha. Metodologicamente e politicamente isto é um equívoco.


2.4) Autonomia


Nós, militantes do Vamos à Luta, procuramos nos reunir antes dos principais fóruns do M.E para discutir quais as melhores opiniões sobre as deliberações que devem ser tomadas. As defendemos nos fóruns para que todos os estudantes decidam o que fazer. Aqui entra o principal ponto, para que os estudantes decidam o que fazer, é fundamental garantir métodos e respeito a estes métodos, que possibilitem a ampla democracia na decisão. Dessa forma, garantindo e respeitando a autonomia do movimento estudantil. Assim como ocorreu na ocupação da reitoria para tomada de quaisquer decisões.


2.5) Classista


O movimento estudantil é policlassista, ou seja, dele participam ou podem participar indivíduos de distintas origens sociais. Porém, damos um recorte classista ao nosso coletivo, sempre priorizando pautas que nos unifiquem com os diversos segmentos da classe trabalhadora. Por isso o apoio à greve dos servidores das universidades foi um centro nacional nosso, participando de suas caravanas em Brasília, assembléias e manifestações em diversos estados.

Isto não é um fetiche e sim uma necessidade. Um exemplo concreto foi a ocupação da Reitoria da UFF, onde nossa vitória só foi possível pela unidade com a ADUFF e o SINTUFF, além do apoio material e político de outras entidades do movimento social como o SINDPETRO. Para nós este é o caminho.


2.6) Relação com partidos políticos


O Vamos à Luta é uma juventude impulsionada pela Corrente Socialista dos Trabalhadores – CST, tendência interna fundadora do PSOL. Para ser do Vamos à Luta não é pré-requisito ser filiado ao PSOL ou ser da CST, porém sempre fazemos questão de não esconder essa relação. Não transformamos em mote o ataque à qualquer tipo de organização, tenham elas legalização no TSE ou não. Também não nos utilizamos da simpática e pragmática bandeira do apartidarismo, pois o que almejamos é justamente o contrário, uma juventude definida e organizada politicamente, inclusive em partidos. Aliás, não nos aproveitarmos da despolitização da sociedade e do descrédito dos partidos, é um princípio. Assim como não fazer coro com a direita do M.E, como a UJS e a Kizomba.


3) Aos fatos sobre o conselho de CA´s e DA´s e sobre o Conselho Universitário.


Queremos reafirmar categoricamente que a deliberação do conselho de CA´s e DA´s não foi respeitada no CUV pela totalidade da bancada estudantil. É verdade que não foi votado o projeto de ciclovia, mas votou-se o que talvez seja um dos seus principais pontos: a cessão, doação, permissão, autorização (ou qualquer outra palavra que permita um trator da prefeitura entrar na UFF) para a Prefeitura por 30 anos. Alguém dirá que é apenas para o ano que vem e nós respondemos que, por isso mesmo, não havia NECESSIDADE NENHUMA de ter sido votado naquele CUV. A decisão unânime dos CA´s e DA´s foi para não permitir, e a votação no CUV foi permitindo! Temos aí o problema número um, muito grave, o democrático. Este também foi o entendimento de outros coletivos, assim como de diversos estudantes que não se organizam em nenhum coletivo e que estiveram nos dois espaços.

A segunda questão é política e nela queremos nos aprofundar mais ainda, pois é na prática que se diferencia realmente nossa concepção de M.E.

Explicitamente ou não, a resolução parte da avaliação de que a Prefeitura e a Reitoria estão na defensiva e nós, o M.E, na ofensiva. Essa opinião não avalia que de fato, as conquistas da ocupação pouco avançaram para o mundo da realidade. Vejamos que até hoje o bandejão do HUAP não foi inaugurado, e o prazo era de um mês. E ainda temos a crise dos leitos do Antônio Pedro com redução de 2/3, por falta de profissionais, enquanto a Reitoria e o diretor do hospital nada fazem para resolver o problema. Os estudantes da saúde, em especial da medicina dão o exemplo; a comissão do estatuto, que tratará dos cursos pagos, mal começou a engatinhar. Nos interiores, nada. Bandejão do valonguinho? Nem começo do planejamento real. A audiência Pública com o Salles deixou claro para nós que a reitoria segue tentando enrolar. Se o movimento estudantil acreditar que está tendo grandes vitórias tomará ações e decisões de forma equivocada. Voltarmos ao republicanismo é um erro. Como dizia o poeta “são tempos de sermos saudavelmente subversivos!”. Essa é a principal diferença que divide o movimento estudantil da UFF hoje, apenas expressa nessa votação no CUV. Há os que acreditam que está tudo bem e que não é o momento de voltarmos a fazer mobilizações contundentes. Nós acreditamos que o Salles nos enrolou e que o movimento esfriou, demos mole, de conjunto. Nossa tarefa, portanto, não é confiar nas comissões e negociações e sim voltarmos a construir um clima na universidade de que a mobilização é a única maneira de tirar do papel os compromissos que a reitoria assinou e não cumpriu. Obviamente isto não exclui a tática de darmos todas as batalhas possíveis dentro de qualquer comissão sobre qualquer assunto.

Vale ressaltar a matéria veiculada no jornal O Fluminense do dia 10/12, que destaca que a UFF recebeu a nota máxima de qualidade por avaliadores do MEC, levando em consideração aspectos acadêmicos, estruturais, culturais, a relação com a sociedade, etc. Esta é a UFF do Salles, do Fernando Hadad e da Dilma, não é a UFF que nós estudantes temos no dia-a-dia, não é a UFF real.


4) Sobre as falsas acusações feitas a nós


Precisamos responder a duas absurdas inverdades colocadas na carta do coletivo “Nós Não Vamos Pagar Nada”. Nunca dissemos e não somos contra a construção de ciclovias. Os companheiros afirmam que no conselho de CA’s e DA´s insistimos na “total negação da ciclovia”. Se fosse esta nossa posição, teríamos dito não só no conselho de CA’s, mas já na ocupação da Reitoria da UFF.

Afirmar que nós fizemos uma outra proposta no CUV por que somos atrelados ao SINTUFF, não é apenas muito desrespeitoso conosco e com os lutadores do SINTUFF, é também uma calúnia sem nenhum sentido. Fizemos outra proposta porque, em nossa opinião, era a correta, era a que garantia a democracia e a decisão INTEGRAL, não em partes, do Conselho de CA´s e DA´s. Nossa motivação portanto, está vinculada a uma análise e a uma caracterização da situação política da UFF, além do respeito à decisão dos CA´s e DA´s.

Lamentamos muito que na carta dos companheiros do “Paga Nada” tenham sobrado ataques ao nosso coletivo, somente a nós inclusive, que desde o início tentamos, e continuaremos tentando, debater este tema num tom de respeito e politizado.


5) Como resolver o problema?


Temos aí duas questões. Primeiro que metodologicamente e politicamente é incorreto “deixar pra lá”. Nós acreditamos que nunca é a melhor solução varrer os problemas para debaixo do tapete, até porque um dia o tapete voa e a sujeira se espalha. Neste espírito, queremos fazer este debate à fundo, não para aumentar desgastes, mas para tirarmos conclusões e aproveitarmos para o fortalecimento do M.E e do DCE. O ideal seria um conselho de CA´s e DA´s ou uma assembléia, mas o tempo já não permite. Então que seja na reunião do DCE.

A segunda questão tem relação com o futuro. Não podemos nos paralizar por esse debate, afinal os desafios são grandes. Nos parece que as opiniões acerca do tema nos coletivos está bastante cristalizada. Em permanecendo assim, após o legítimo debate ter sido realizado, devemos tentar avançar. Mais importante do que as nossas opiniões é o dia-a-dia dos estudantes. Então devemos nos debruçar num plano ousado para 2012, desde a calourada até o acompanhamento profissional à cada ponto da carta assinada por Bob Salles. Este é o centro, que com medidas simples, podemos fazer e ainda ajudam a referenciar o DCE na base. Ainda é pouco, mas já seria um bom início.


6) Algumas propostas iniciais para a ação:


1 – Calourada 2012 com o tema: “O Salles assinou, mas a fila ainda não andou” (ou qualquer outra coisa que remeta ao descumprimento do acordo);

2 – Ter centro na finalização da proposta de estatuto e garantir a sua votação ainda no primeiro semestre;

3 – Realizar o Encontro do interior dos estudantes;

4 – melhorar a comunicação do DCE com coisas simples (mural do DCE nos blocos, com fotos, boletins, jornais, espaço para sugestões e críticas, etc.)

5 – procurar o Araribóia Rock e outros parceiros para fazermos um festival de Bandas do DCE;

6 – Seguir o processo de regularização financeira e jurídica do DCE, realizando prestação de contas no site, face e nos murais);

7 – Marcar a data para um seminário de gestão no período que vem.


Juventude Vamos à Luta-UFF

dezembro de 2011