Húngaros protestam contra Constituição antidemocrática

030112_hungria-protestosDiário Liberdade – Na noite desta segunda-feira (2), dezenas de milhares de húngaros protestaram na capital do país, Budapeste, contra a nova Constituição promulgada pelo governo chefiado pelo partido de coalizão de direita, Fidesz.
Os manifestantes consideram que as alterações aprovadas põem em xeque a democracia.
A reforma é política, fiscal e interfere até mesmo nos costumes da sociedade. Sequer os apelos de Bruxelas travam a ambição do primeiro-ministro, Viktor Orban. O premiê conquistou maioria parlamentar de dois terços nas eleições de 2010 e desde então já reescreveu várias leis, o que motivou críticas dentro e fora da Hungria de que o partido estaria tentando enfraquecer o regime democrático.
A nova constituição prevê, nomeadamente, a redução do parlamento e eleições em um só turno, fazendo desaparecer os pequenos partidos; fixa uma taxa de 16% de imposto sobre o rendimento, condicionando todos os futuros orçamentos e compromete a independência do Banco Central da Hungria.
Mas o texto também trata da vida privada dos cidadãos. O conceito de Deus é referido no preâmbulo, os embriões são considerados como seres humanos e o casamento só é autorizado entre um homem e uma mulher.
Até agora, os chamados para manifestações contra o governo só tinham atraído algumas centenas de pessoas. Desta vez, porém, as ruas do centro de Budapeste foram tomadas por milhares de cidadãos.
Sandor Szekely, copresidente do movimento Solidariedade, que organizou a manifestação, disse que o “rolo compressor” do governo acabou por unificar a oposição de forma inédita, motivando uma maior cooperação entre partidos políticos e a sociedade civil.
“O principal problema desta Constituição é que destroi a ordem constitucional e passa a ser a lei fundamental de um só partido”, defende um cidadão.
Outra, lamenta: “Os meus netos já me disseram que não vão ficar no país, são jovens e queriam viver aqui, mas já não querem”.
A polêmica coloca em xeque as discussões da Hungria com a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional a respeito de um novo acordo financeiro, considerado crucial para que o país recupere sua boa imagem junto aos mercados.
Na imagem: opositores em manifestação contra o governo. No cartaz lê-se: “Ei, Europa, me desculpe pelo meu primeiro-ministro”.