20 de Outubro: Jornada Mundial de solidariedade com o povo sírio

Aos povos de todo o mundo…

Pedimos-lhes solidariedade conosco como nós sempre temos feito com vocês.
Levamos mais de um ano e meio lutando para arrancar nossa liberdade de um regime ditatorial e assassino que já matou dezenas de milhares de crianças, mulheres e idosos, prendido e torturado centenas de milhares e obrigado a milhões de habitantes a sair correndo de suas casas e abandonar suas cidades que o regime, sem piedade, não cessa de bombardear. Algo parecido à  barbárie nazista que o mundo inteiro conhece.
Os sírios sempre tem se solidarizado com todos os povos oprimidos e sofridos no mundo, os tem recebido com carinho e tem aberto suas casas a todos os refugiados de todas as nações. Hoje, este povo está abandonado e se sente decepcionado pela falta de solidariedade de todas as Nações, de seus semelhantes da espécie humana. Abandonado à própria sorte, este povo luta desesperadamente e recebe os mais atrozes massacres há cerca de um ano e meio, para conquistar a tão esperada dignidade e liberdade. Uma liberdade que é um legítimo direito de todos.  No senso comum, a solidariedade e os valores humanos estabelecidos e sempre praticados, são as características e virtudes mais importantes da espécie humana e o que nos distingue do resto dos seres vivos. Estas virtudes são agora o que o povo sírio precisa desesperadamente para sair da pior situação que pode viver um povo nessa era moderna. Os sírios, que há um ano e meio enfrentam com valentia todo tipo de sacrifício e dor, hoje aspiram a uma ampla mobilização internacional que se solidarize e apoie as suas reivindicações e sua revolução, diante deste monstruoso regime assassino, cuja única forma de diálogo é matar, destruir, estuprar e humilhar.

Pedimos aos povos de todo o planeta, às organizações, partidos e todos os agrupamentos, que no dia 20 de outubro seja o DIA DE SOLIDARIEDADE com o massacrado povo sírio, para tentar comover e despertar a opinião pública mundial e assim, obrigar os governos e organismos internacionais a tomar decisões eficazes e imediatas para parar os massacres e crimes contra a humanidade que Asad comete impunemente todos os dias na Síria.

Estejam conosco como nós sempre temos estado com vocês.
Comitês locais de coordenação da Síria, 08 de outubro de 2012.

Entrevista com líder da Esquerda Revolucionária da Síria
Ghayath Naïsée – Líder da Esquerda Revolucionária na Síria (CGR)
Conversamos em Paris com Ghayath Naïsée, atual líder da Esquerda Revolucionária na Síria (CGR)
Qual a situação atual da revolução síria?
A revolução continua, os protestos continuam e a resistência popular se estende sobre uma grande parte do território. A ditadura utiliza todas suas capacidades, incluindo a aviação militar. Mas a população rebelde quer a queda do regime oligárquico. Observamos uma melhor organização das lutas e fundamentalmente o desenvolvimento dos órgãos da auto-organização e autogestão.
Fale mais sobre esses órgãos. Como estão conformados? Como se organizam? Que tarefas assumem?As massas sublevadas se organizam em pequenas cidades e bairros em comitês locais. Desde abaixo. Estes comitês participam na coordenação a escala de uma cidade ou de vários distritos de uma população grande. Sua função consiste em organizar lutas, manifestações, distribuir panfletos, cuidar dos feridos, arrecadar fundos para ajudar os necessitados e também para assegurar a cobertura mediática de estas lutas: vídeos, notas de imprensa, entrevistas com canais via satélite, etc. Os órgãos de autogestão são os conselhos locais, a maioria dos quais são eleitos pelas massas para gerir a vida quotidiana de uma cidade.

Qual o papel da classe trabalhadora?A simples vista nenhuma classe como tal, cumpre um papel principal. Mas uma análise mais cuidadosa revela dois elementos. O primeiro é que as forças motrizes da revolução popular síria são: a classe trabalhadora, os camponeses pobres, marginados das regiões urbanas e rurais e as capas inferiores da classe média. Em segundo lugar, isto se confirma olhando o mapa das regiões que se levantaram desde o principio da revolução: populações e cidades essencialmente de classe operária, como os subúrbios de Damasco, Alepo e Homs ou zonas rurais excluídas, como Idlib, Daraa e Deir AL Zor. Até agora, qualquer atividade autônoma da classe operária esteve proibida durante os últimos 40 anos de regime Assad, seja sob o pai ou sob seu filho. Os sindicatos estão a serviço do regime. A revolução é uma ação de emancipação da classe trabalhadora: estão surgindo embriões de sindicatos de luta ao calor do processo revolucionário.

A revolução começou com manifestações populares, mas teve um momento em que tomou as armas. Qual sua opinião da luta armada?Efetivamente, as forças revolucionarias não queriam pegar em armas nos primeiros meses da revolução. Porém, dois fatores levaram à aparição da resistência popular armada. O primeiro fator é a brutalidade da ditadura da burguesia no poder contra os manifestantes. Assassinatos, mortes sob tortura, detenções em massa, humilhações, violações, destruição de populações e bairros, incêndio de campos… O segundo fator foi o aumento do número de desertores desde junho de 2011. Em particular, as pequenas brigadas de civis armados e desertores do exército se organizaram para defender os protestos

Fale-nos do Exército Sírio LivreTodas as brigadas armadas populares são o Exército Sírio Livre. “Exército Sírio Livre” é o nome genérico da resistência popular armada. Não é um exército autentico porque não tem um comando central unificado. Não tem jerarquia. Isto tem vantagens e desvantagens. A centralização da resistência popular armada é necessária, com uma estratégia revolucionaria, democrática e social. Neste sentido, apoiamos a resistência popular armada sem calar nossas críticas quando necessário ou se for descuidado o trabalho nas lutas de massas.

E o papel dos oficiais do antigo regime?Eu repito o que falam os manifestantes: bem-vindos os que abandonam o naufrágio do regime ditatorial, mas não devem ter nenhum lugar na direção da revolução.

Qual a política da esquerda na Síria?Vários grupos da esquerda trabalham em três níveis: 1) participar na coordenação e organização da luta de massas; 2) sensibilizar e radicalizar a luta para reivindicar mudanças políticas e sociais mais profundas e radicais; 3) trabalhar para formar uma ampla aliança da esquerda revolucionaria e democrática para intervir no processo revolucionário aberto. Ao mesmo tempo, trabalhar pela unidade das forças revolucionarias à esquerda, num programa de transição para a transformação da revolução democrática com um potencial social como a revolução Síria em revolução permanente. Tendo em conta estes elementos, para nós, não é de esquerda na Síria ou em qualquer parte do mundo, quem não apoia a revolução popular.

E o PC?O PC sírio histórico se divide em três frações. Todos têm suas raízes no PC de Khaled Bagdash, famoso estalinista que morreu há alguns anos. Seu filho também herdou uma fração deste partido que é fiel aliado do regime da ditadura. A segunda fração é o PC “unificado”, tão estalinista como o partido mãe e também aliado do regime. O terceiro grupo é a fração de Qadri Jamil quem se converteu em vice-primeiro ministro no governo formado pelo ditador há uns dois messes. Muitas das estruturas básicas e os ativistas jovens destas frações abandonaram estes partidos para se unir à revolução.

Quais são suas críticas ao Conselho Nacional de Transição e à direção política dos islamitas?As críticas ao CNS são muitas. Sua formação em outubro de 2011 não foi democrática. Um grupo desconhecido em Istambul num hotel fechado escolheu seus membros sem consultar ninguém. Além disso, converteu-se em prisioneiro dos estados que o tutelam: Qatar, Turquia, Arábia Saudita e França… Em terceiro lugar, sua estratégia, desde o inicio, não se baseia na força e a vontade do povo sírio. Se constrói sobre a base de uma intervenção militar estrangeira, que rejeitamos. Quarto, a força hegemônica no SNC é a Irmandade Muçulmana. Tanto os islamitas como a Irmandade Muçulmana, estão subordinados e financiados por Qatar e Arábia Saudita. Seu programa, na maioria dos casos, é confessional e por tanto reacionário e coloca em perigo o processo revolucionário. Qualquer ação ou propaganda religiosa é parte da reação.

Por que rejeitam a intervenção imperialista?O chamado à intervenção militar imperialista tem um efeito catastrófico, já que alimenta a ilusão de um final rápido e fácil do regime. Além demais, isto semeou a divisão entre as forças revolucionarias. Esse chamado à intervenção imperialista teve um efeito desmoralizador nas massas revolucionárias que a rejeitavam. Sem intervenção militar imperialista o número de vítimas supera os 25.000. Qual seria se houver uma intervenção direta? Mais de um ano depois ainda não há intervenção militar imperialista direta… se não contamos Rússia e Irã, claro.

Até que ponto estes apoios são importantes para o regime?Rússia lhe oferece apoio militar, diplomático, econômico e social. Irã também ofereceu 5 bilhões de dólares ao regime. Comprou-lhe a metade da colheita com um ano de antecipação, isto sem falar dos assessores militares. Hezbollah oferece ao regime apoio político e logístico, alem da persecução e dos ataques contra os sírios revolucionários no Líbano ou perto da fronteira sírio-libanesa.

Depois de 25.000 mortos, o fim do regime está perto?Eu espero e acredito que o regime está acabado e que sua queda vai acontecer mais tarde ou mais cedo. O processo revolucionário é tão forte e radicalizado que não vai aceitar outra coisa que barrar a sanguinária ditadura da burguesia. É o otimismo da vontade e o pessimismo da razão. Estamos frente a um processo revolucionário que provavelmente durará vários anos, com os objetivos democráticos da liberdade e dignidade, alem da igualdade e a justiça social, é uma revolução permanente. Venceremos!