A oposição de esquerda da UNE deve ser perigosa – Sobre a (não) eleição de delegados da UFRJ ao 54º Congresso da UNE

Companheiros,

Nós da Juventude Vamos à Luta (CST/PSOL e independentes), através desta carta, estamos rompendo com a Chapa 2 “É Hoje – Pra virar a Une do Avesso”. Fazemos isto por acreditarmos ser extremamente equivocado o método escolhido e acordado entre todas as forças políticas que compõem a chapa 2 (Rua, Rebele-se, UJC e Juntos),  e também com as chapas 1 (UJS e Kizomba) e 3 (Levante Popular da Juventude).

Não haverá eleição de delegados na UFRJ e mesmo assim eles serão tirados e credenciados. O acordo fechado prevê 30 delegados para a chapa da oposição de esquerda, 16 delegados para a chapa da UJS e da Kizomba e 2 delegados para o levante popular da juventude. Hoje, sexta-feira, foi realizado um “plebiscito” em algumas unidades onde a pergunta da cédula seria algo como, segundo nos informaram: “Você concorda que as chapas 1, 2 e 3 levem delegados da UFRJ para o 54º Congresso da UNE?”.

A UFRJ é hoje o epicentro da crise pela qual as universidades brasileiras estão passando. A ocupação da reitoria que acabou ontem (21/05) com enormes vitórias para os estudantes e para os trabalhadores terceirizados, nos demonstra claramente que não devemos temer nenhum inimigo e que vivemos tempos onde a ousadia e a rebeldia são extremamente necessários.

Por causa da ocupação não foi possível realizar a eleição na quarta e na quinta (20 e 21/05), como estava marcado. Além da ocupação, grande parte da UFRJ está paralisada e sem aulas, como a FND, o IFCS, vários cursos da Praia Vermelha a FAU, etc. Para nós foi correto não ter realizado a eleição ao mesmo tempo em que acontecia a ocupação. Reconhecemos todos estes problemas e a delicadeza do momento e o conjunto de contradições deste processo.

Entretanto, a saída encontrada nos parece “estranha/bizarra”, como afirmamos ontem a noite na reunião em que nos informaram com maiores detalhes o acordo. Em primeiro lugar, discordamos e achamos ser ruim a forma como foi definido esse acordo. Por que não convocar e reunir toda a chapa em uma plenária para pensarmos em formas e saídas coletivas?

O prazo máximo para a realização de eleições para o CONUNE, segundo o regimento da UNE, é hoje, pois os credenciamentos locais serão realizados amanhã em todo o Brasil. Porém, a maior universidade federal do país está em um momento muito particular e não conseguiu realizar sua eleição por motivos coletivamente reconhecidos. A direção majoritária da UNE (PCdoB/PT) deveria não apenas aceitar, mas deveria ser ela a propor que a eleição da UFRJ fosse feita na semana que vem em caráter excepcional. Quanto à oposição, em nossa opinião, esta deveria encabeçar e exigir que a eleição fosse realizada na semana que vem. Em caso de negativa (o mais provável), deveríamos realizar as eleições assim mesmo, com debate e discussão na base como estamos acostumados e levar todos os delegados legitimamente eleitos para o congresso e batalharmos pelos seus credenciamentos dentro do CONUNE até as últimas consequências.

Estamos em momentos decisivos. A universidade brasileira está explodindo em problemas e o movimento começa a responder também de forma explosiva. Assim foi na própria ocupação da UFRJ, nas assembleias e ato de rua da UERJ, UEZO e UENF, e na vitoriosa e massiva assembleia estudantil da UFF que ontem votou greve estudantil. Deveríamos chegar nesse congresso exigindo que a UNE convoque uma  greve nacional estudantil, por nenhum centavo a menos na educação e enfrentando, de fato, o ajuste fiscal do governo conservador de Dilma e do Congresso Nacional conservador. Também deveríamos exigir o credenciamento dos delegados da UFRJ e quaisquer outras questões democráticas. Para a “UNE voltar a ser perigosa” a Oposição de Esquerda tem que voltar a ser perigosa! Em outros tempos a esquerda da UNE já paralisou congressos e lutou unificada e de forma consequente por problemas democráticos e se enfrentando concretamente contra os golpes do PCdoB. Não estamos falando apenas de uma eleição, apenas de delegados, falamos de uma concepção e perfil de uma oposição. Na UFF, por exemplo, de forma unificada a oposição ao DCE governista convocou uma assembleia geral pela base e votou a greve estudantil. É esse espírito perigoso, combativo e democrático que estamos falando, diferente da eleição do CONUNE em que o DCE fez com o calendário mínimo, para evitar o debate democrático, e que todos nós da oposição batalhamos contra. Não dá para termos pesos e medidas diferentes, onde na UFF denunciamos a falta de democracia e na UFRJ é a chapa da oposição que leva à frente o tal “plebiscito”. O método dos acordos e dos conchavos é o deles e todo e qualquer delegado que for “eleito” por este “plebiscito” não terá a legitimidade da base, tendo sido escolhido em pequenas reuniões de dirigentes políticos. Preocupou-nos mais ainda saber que “acordos” parecidos se deram também em outras universidades, e em algumas delas inclusive em chapas unitárias com a majoritária da UNE. Nada mais errado e anacrônico com os dias que vivemos.

O problema não é apenas a tática, e sim na estratégia. Para a estratégia de simplesmente compor os cargos da UNE a tática adotada foi a melhor. Para a estratégia de derrotar politicamente essa burocracia, que é o nosso desejo e a necessidade da juventude brasileira, essa tática do acordão não serve e retrocede.

Ainda assim, caso não houvesse acumulo e acordo para realizar este enfretamento, por que ao invés de fazer o tal “plebiscito”, não se abriram as urnas com cédulas comuns para os estudantes escolherem entre as três chapas? Disseram-nos, ao propormos isto, que o resultado seria distorcido. Concordamos que haveria distorção, mas seria a distorção da base (que é muito superior!) e não a “racionalidade” do acordo de bastidores.

Vamos para um congresso cheio de desafios e este fato não ajuda em nada nossa articulação. Está em disputa que perfil de oposição que queremos e desde já colocamos que queremos uma oposição de esquerda e radical contra o governo Dilma e a direção majoritária da UNE, lutando contra as políticas de traição e de conciliação, e também contra os velhos métodos que estão à serviço dessas velhas políticas. Novo movimento estudantil e nova cultura de movimento para nós não são bandeiras de agitação, basta que a façamos na prática.
Rio de Janeiro, 22 de maio de 2015.

Juventude Vamos à Luta!

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